Entenda o Real Digital e suas possíveis consequências no mercado bancário brasileiro

Após décadas de consolidação no setor, o sistema financeiro brasileiro ficou muito concentrado nas 5 principais instituições do país: Itaú, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica. Ciente dos efeitos deletérios da intensa concentração bancária vigente, o Banco Central, no fim de 2016, durante a gestão de Ilan Goldfajn, idealizou a chamada Agenda BC+, que foi continuada por seu sucessor, Roberto Campos Neto.

A agenda BC+ tem como objetivo essencial promover um redesenho institucional que possibilite um ambiente mais propício à competição no segmento financeiro. Nos últimos anos, o mercado bancário tradicional foi bastante disruptado pela ascensão das fintechs, que tomaram uma parcela de mercado dos bancos tradicionais ao oferecer serviços gratuitos que anteriormente eram cobrados pelos incumbentes. Posteriormente, em 2021, também veio o PIX, que provocou uma revolução na maneira como as pessoas físicas e jurídicas realizam pagamentos e transferências por todo o Brasil.

A próxima novidade a ser divulgada refere-se ao Real Digital, cujo lançamento oficial está previsto para o primeiro semestre de 2023. Dotada da tecnologia Blockchain, o Real Digital é considerado uma CBDC (Central Bank Digital Currency), que são representações digitais da moeda física hoje em circulação na economia. 

É interessante mencionar que as moedas digitais de bancos centrais têm chamado a atenção da comunidade global de autoridades monetárias. Uma parte significativa deles, representando quase a totalidade do PIB mundial, está estudando, explorando ou testando projetos, aspectos operacionais e tecnológicos de um sistema de CBDC.

Além disso, a CBDC também deve facilitar o uso do dinheiro em viagens internacionais, ao contrário do Pix que só funciona no Brasil. Também é esperado que o Real Digital consiga diminuir os crimes financeiros em função da possibilidade de haver mais monitoramento, permitindo que órgãos de controle compreendam de maneira mais profunda os fluxos de dinheiro.

 No entanto, o Real Digital não se trata de um criptoativo, e sim de uma stablecoin, que normalmente é lastreado a moedas reais. Ao contrário das criptomoedas, que são descentralizadas, a moeda digital em análise será uma versão paralela da moeda fiduciária no ambiente digital, com lastro no Bacen, e terá paridade de 1:1 com o real. Assim, o cidadão receberá códigos enviados pelo Banco Central indicando os seus respectivos valores.

É interessante destacar também que o Real Digital será emitido pelo Banco Central e distribuído por meio de instituições financeiras e demais participantes dos atuais sistemas de pagamentos. Além disso, o ativo será regulado pelo próprio Banco Central assim como a autoridade monetária faz com o real em espécie. 

Por ser um projeto muito embrionário, é difícil fazer grandes previsões sobre as suas consequências, porém certamente o Real Digital é uma tecnologia que leva a desintermediação, o que pode vir a afetar os bancos num nível ainda muito pouco claro. Com Real Digital, o usuário não será obrigado a ter uma conta bancária para utilizar o dinheiro, que será guardado em um wallet digital (carteira digital). O gerenciamento das transações provavelmente será realizado em algum sistema do governo, provavelmente do Banco Central, inclusive.

Nesse momento, ainda há uma visibilidade muito baixa dos reais impactos do Real Digital, porém, certamente as instituições financeiras terão que continuar se reinventando para oferecer serviços aos clientes. Possivelmente, a moeda digital deve afetar as linhas de receitas de serviços com contas correntes que já estão sendo pressionadas há algum tempo pela competição digital.     

Dessa forma, acreditamos que o setor bancário continuará sendo disruptado por uma série de tecnologias que, de uma maneira ou de outra, tendem a digitalização dos serviços. As disrupções tecnológicas devem sempre ser analisadas com cautela, mas até o momento as principais instituições financeiras brasileiras têm mostrado um elevado grau de adaptabilidade diante das inovações digitais.

Por fim, as novidades digitais podem assustar, mas os principais bancos do país já provaram e comprovaram a robustez dos seus modelos de negócios.

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Milton Rabelo

Analista CNPI 2444

@miltonrabelo.financas

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