Dólar fortalecido globalmente, ciclo de aumento na taxa de juros básica norte-americana, companhias reduzindo gastos e investimentos frente à expectativa de uma desaceleração econômica. Em outubro, o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, afirmou que é provável que a economia norte-americana entre em recessão no próximo ano, e que o mercado de ações verificaria uma correção de até 20%. Analistas do Bank of America acreditam em uma recessão na metade de 2023. De acordo com o Federal Reserve do estado da Filadélfia, a probabilidade da economia norte-americana verificar uma recessão é de 43,5% entre profissionais que responderam o último questionário do Fed da Filadélfia – até o momento, é a recessão mais “esperada” da história.
É possível, embora improvável, que uma recessão não se concretize no horizonte próximo. Entretanto, recessões fazem parte dos ciclos econômicos e os investidores devem estar preparados. Inúmeros indicadores econômicos apontam que uma recessão nos Estados Unidos é cada vez mais provável. Quais seriam os setores mais resilientes a uma recessão? Quais seriam os setores menos resilientes a uma recessão?
Setores mais resilientes a uma recessão:
- Utilities: serviços de utilidade pública são essenciais por natureza. Água, eletricidade e gás são essenciais para as famílias norte-americanas e, por essa razão, assim como no Brasil, os prestadores desse serviço são caracterizados pela perenidade e essencialidade. Empresas que prestam serviços de utilidade pública também são mais propensas a se beneficiarem de subsídios durante recessões, funcionando como uma camada extra de proteção aos investidores em um setor já caracterizado pela sua essencialidade.
- Saúde: gastos com saúde são essenciais e não-discricionários. Independente do grau de severidade de uma recessão, o valor atribuído à saúde pelas pessoas é elevado e empresas de saúde, de forma geral, navegam por recessões de forma mais tranquila. Em outras palavras, a demanda por serviços de saúde persiste igual independente das condições macroeconômicas.
- Consumo essencial: empresas de varejo de itens essenciais tendem a resistir bem em cenários de recessão. Indiscutivelmente, itens de supermercado (grocery) e itens de reparo são essenciais para as famílias. Varejistas, como CostoCo e Walmart, e produtoras de itens essenciais, como Kellogg, Colgate-Palmolive e Procter & Gamble, não costumam verificar queda na demanda por seus produtos. Ainda que uma queda na demanda possa ocorrer, não é esperado que o efeito seja relevante.
Setores menos resilientes a uma recessão:
- Varejo (discricionário): trata-se de um dos setores mais sensíveis a recessões e, não por acaso, funciona como uma espécie de termômetro da atividade econômica. Sendo um dos setores que mais contratam nos Estados Unidos, representando mais de 11% da mão de obra norte-americana, em muitas recessões foi um dos setores mais afetados. As famílias tendem a cortar itens não-essenciais quando a economia está em recessão ou entrando em uma recessão, como itens eletrônicos não-essenciais, roupas e itens de luxo ou de “conforto” que podem ser excluídos do orçamento familiar. Entretanto, é válido ressaltar que o varejo de luxo tende a ser um pouco mais resiliente.
- Restaurantes (de ticket mais elevado): assim como o varejo discricionário, em um cenário de recessão as pessoas estão mais dispostas a sacrificar gastos com alimentação em restaurantes de ticket mais elevado. A inflação de alimentos também tem promovido um aumento nos preços de refeições em restaurantes, o que desincentivaria cada vez mais o consumo fora de casa. Restaurantes e bares operam com uma margem bem baixa nos Estados Unidos, e uma recessão pode ser desastrosa para o setor. Entretanto, é válido ressaltar que restaurantes de ticket baixo navegam em uma dinâmica diferente: restaurantes fast food tendem a ser menos impactados e alguns até verificam um aumento na demanda, com pessoas mais dispostas a gastar menos em refeições baratas, como as disponíveis em restaurantes fast food como McDonalds e Taco Bell.
- Viagem, turismo, lazer e hospitalidade: a indústria de viagem, turismo, lazer e hospitalidade tende a ser fortemente afetada por uma recessão, dado a discricionariedade do gasto. Em 2008 a Disney sofreu fortemente e demitiu 1.600 funcionários apenas no The Walt Disney World.
Outros setores potencialmente afetados:
Inúmeras indústrias de itens não-essenciais tendem a ser afetadas, como a indústria automotiva. O impacto sobre a indústria de petróleo e gás não está claro, dado o cenário atípico que estamos verificando globalmente.
*Não é recomendação de investimento.
Lucas Schwarz