No dia primeiro de dezembro, aconteceu o Panorama Itaúsa 2022, evento através do qual os executivos da holding e das companhias investidas explanaram sobre os movimentos realizados pelo conglomerado ao longo do ano, assim como as suas perspectivas para 2023.
Queridinha dos investidores, a Itaúsa tem aproximadamente 920 mil acionistas que estão distribuídos no exterior e em 95% dos municípios brasileiros. Além disso, a companhia é conhecida no mercado financeiro por possuir uma capacidade de alocação de capital muito precisa.
Durante o evento, Alfredo Egydio Setúbal, o Diretor Executivo da Itaúsa, explicou que a administração leva em conta uma série de fatores para considerar se realizará um investimento ou não. Segundo o executivo, para executar as aquisições, a holding avalia cuidadosamente o crescimento potencial das eventuais investidas e preza por empresas líderes de mercado, que possuam marcas relevantes. Além de prezar por questões ESG, a Itaúsa realiza as alocações propondo-se a ser um agente de mudança nas organizações adquiridas possuindo amplas representações nos conselhos dessas companhias.
Em 2022, inclusive, a Alpargatas, uma das investidas da Itaúsa, realizou um investimento considerado estratégico na aquisição da Rothy’s, uma fabricante de calçados norte-americana. A Rothy’s possui um modelo de negócios bastante sustentável, fabricando os seus calçados a partir de garrafas pet, por exemplo, e possuindo foco nos canais de vendas digitais. Diante disso, a Alpargatas viu a operação como estratégica, uma vez que dela decorrerá uma internacionalização das suas receitas, que também passarão a ser em Dólar. Durante o evento, ressaltou-se também que a Alpargatas tem sido transformada numa empresa de moda e lifestyle.
Além disso, de acordo com Radamés Casseb, CEO da AEGEA, as perspectivas para a companhia também são muito positivas, sobretudo em função da aprovação do Novo Marco Legal do Seneamento. No momento, existem 100 milhões de pessoas no Brasil sem acesso à saneamento básico e 35 milhões sem acesso à água e a AEGEA espera vencer leilões em todo o país, o que elevaria a já elevada taxa de crescimento da companhia.
Por seu turno, para o ano que vem, a Copa Energia deve atuar também fora do nicho de GLP, que é o grande foco da empresa até então. De acordo com a gestão, o setor de energia renovável deve ser uma grande avenida de crescimento para a empresa. Além disso, foi reforçado que os investimentos em energia por parte da holding serão realizados necessariamente por meio da Copa Energia, que, inclusive, tem buscado sinergias com as demais empresas do conglomerado.
A Dexco, por sua vez, é um negócio que está inserido em um setor mais sensível ao elevado patamar de juros da economia brasileira, porém ressaltou-se que a empresa é bastante capitalizada. A gestão parece muito otimista com a construção de uma nova fábrica de cerâmicas e louças em Botucatu – SP que será a mais moderna do Brasil.
Já Milton Maluhy, CEO do Itaú, informou que dois terços dos sistemas do Itaú já estarão modernizados na virada do ano, o que, de acordo com o executivo, é um divisor de águas para o banco. ‘’Isso faz com que a nossa velocidade de mudar, de interpretar as necessidades, desenvolver produtos, trazer soluções para os clientes, mude exponencialmente. Estamos conseguindo implementar dez vezes mais produtos e soluções em uma velocidade muito maior, e com muito mais qualidade, do que a gente vinha conseguindo”, afirmou Maluhy. Durante o evento, o executivo também ponderou sobre as adversidades políticas e econômicas esperadas para 2023 e sinalizou confiança na diversificação da carteira de crédito do Itaú, que confere relativa estabilidade na taxa de inadimplência da instituição financeira.
Além disso, também foi relembrada a alienação de 7,4% ocorrida na XP em 2022, já que a holding tem buscado diversificação em setores relacionados sobretudo à infraestrutura. Pontuou ainda que os recursos oriundos da alienação foram usados para amortização de dívidas, assim como em investimentos realizados, entre os quais podemos citar a compra de 10,3% da CCR junto com o Banco Votorantim.
Em relação à CCR, inclusive, em 2022, Waldo Perez, CEO da companhia, relembrou que a companhia conseguiu arrematar a concessão de 16 aeroportos, além de várias rodovias e projetos de mobilidade urbana por todo o país. Além disso, a administração também espera grandes oportunidades de investimentos para os próximos anos em função da necessidade do poder concedente nas parcerias com as plataformas privadas.
Apesar de a Itaúsa estar aberta a novos investimentos e ter uma visão muito promissora sobre o setor agrícola, o Diretor Executivo da companhia acredita que 2023 será um ano, sobretudo, de cautela em função das incertezas brasileiras e internacionais. No exterior, existe uma alta chance de recessão econômica em países desenvolvidos, ao passo que a China, o principal parceiro comercial do Brasil, enfrenta um cenário de desaceleração da sua economia. No âmbito doméstico, as incertezas políticas e fiscais do governo eleito também demandam prudência e atenção por parte de todo o mercado.
Uma das questões mais demandadas por parte da extensa base de acionistas da Itaúsa refere-se ao pagamento de dividendos e JCPs. Em relação a isso, ponderou-se, no evento, que Itaúsa paga historicamente 37% dos seus lucros a sua base de acionistas, porém esse percentual encontra-se temporariamente menor em consequência dos investimentos recentemente realizados, assim como pela própria necessidade de desalavancagem dos negócios investidos.
Vale mencionar também que a Itaúsa normalmente repassa aos seus acionistas os proventos que recebe do seu maior investimento, o Banco Itaú. Entre 2017 e 2019, o Itaú realizou grandes pagamentos de proventos à holding, porém desde 2020, a distribuição encontra-se no patamar mínimo regulatório de 25%. Isso pode ser explicado, em larga medida, pelos investimentos realizados pelo banco em outras empresas como a Avenue e a Corretora Ideal, assim como pelo vigoroso crescimento da carteira de crédito da instituição financeira, o que demanda muito capital.
No entanto, de acordo com a administração, as perspectivas de pagamento de proventos são positivas para o médio e longo prazo e o Dividend Yield atual se encontra em um patamar razoável e acima da média de mercado. Assim, nos próximos anos, é provável um aumento no volume de proventos repassados aos seus acionistas.
Também foi comentado durante o evento a grande e longeva preocupação das famílias controladoras da Itaúsa com as pautas ESG. Inclusive, em 2022, foi criado o Instituto Itaúsa com foco na conciliação entre a preservação do meio ambiente e da produtividade, que são duas questões de extrema importância para o Brasil, na compreensão de Alfredo Setúbal.
Por fim, apesar do cenário desafiador, a gestão da companhia sinalizou confiança nos modelos de negócios de todas as suas empresas investidas que estão devidamente preparadas e capitalizadas para enfrentar as adversidades econômicas e políticas.
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Milton Rabelo
Analista CNPI 2444
