Conforme amplamente noticiado pela mídia especializada, há aproximadamente um mês, foram descobertas fraudes de proporções gigantescas da famosa varejista Americanas (AMER3), cujas ações já caíram, desde então, mais de 90%. A fraude descoberta pelo então executivo, Sérgio Rial, deixou o mercado perplexo tanto pela sua magnitude quanto pela falta de accountability, já que ela passou aparentemente despercebida por todo o mercado ao longo de vários anos.
Esses problemas, por si só, já são graves, porém um dos efeitos colaterais da fraude têm consequências diretas sobre as instituições financeiras credoras da varejista, que também foram mergulhadas em um momento de incerteza, diante do possível calote que eventualmente estar por vir. E, conforme esperado, os resultados do quarto trimestre de 2022 das instituições financeiras já foram impactados pelas famosas Provisões para Devedores Duvidosos, as PDDs.
É interessante destacar que as Provisões para Devedores Duvidosos realizada pelos bancos não constituem necessariamente um calote, mas sim em uma conta que reduz temporariamente os lucros da instituição até que haja mais clareza se o crédito será pago ou não pela instituição devedora. No caso do imbróglio envolvendo a Americanas, o cenário ainda está bastante nebuloso e com baixo nível de visibilidade, diante da magnitude e gravidade das fraudes contábeis cometidas. Além disso, a varejista já está em Recuperação Judicial.
É interessante destacar que existem três bancos com um nível de exposição ao problema mais alto do que os demais: BTG (BPAC11), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11). Em relação ao BTG Pactual, os R$3,5 bilhões que a instituição tem em empréstimos a Americanas representam 2,4% da sua carteira de crédito e 8,3% do seu patrimônio líquido.
Já o Bradesco possui um volume de empréstimos de R$4,8 bilhões, um montante maior em termos nominais, porém que significa 0,5% de seu portfólio de crédito e 3,1% do patrimônio líquido. Por último, conforme consta na lista acima, o Santander aparece com um valor total emprestado de R$3,6 bilhões, ou seja, 0,6% do portfólio de crédito e 4,4% do patrimônio líquido.
Já Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) têm exposições relativamente menores em comparação a Bradesco e Santander. Os empréstimos do maior banco da América Latina à varejista representam menos de 2% do patrimônio líquido e 0,2% da carteira de crédito, ao passo que exposição do BB representa 0,9% do equity e 0,1% da carteira de crédito da instituição estatal.
Até o momento, com exceção do Banco do Brasil, os bancos incumbentes já divulgaram os seus resultados referentes ao quarto trimestre de 2022. O Itaú e o Bradesco foram bastante conservadores e decidiram provisionar 100% dos empréstimos referentes a Americanas, ao contrário do Santander, que provisionou apenas 30%. Dessa forma, os próximos resultados do Bradesco e do Itaú já estarão “limpos” do efeito das fraudes contábeis, ao passo que se esperam novas provisões por parte do Santander ao longo de 2023, já que a instituição apresenta um nível de exposição à varejista relativamente alto.
Os resultados do Bradesco, especificamente, vieram muito fracos e o provisionamento integral desses empréstimos contribuiu bastante para um bottom-line tão deteriorado. É interessante ponderar também que o Bradesco é consideravelmente mais exposto do que o Itaú às fraudes contábeis da Americanas.
Na verdade, o Bradesco já surpreendeu negativamente o mercado desde a divulgação dos resultados referentes ao 3T22, quando ficou claro que a taxa de inadimplência e, consequentemente, o montante de PDDs necessárias seriam bem maiores do que inicialmente haviam sido imaginados. Ficou claro que o Bradesco não fez análises suficientemente assertivas a respeito da capacidade de pagamento de eventuais tomadores de crédito.
Por lado, o Itaú vem reportando resultados muito sólidos e tem conseguido tem conseguido expandir os empréstimos mais rentáveis, ao passo que mantém o índice de inadimplência sob relativo controle, o que tem sido possibilitado pelo uso de tecnologias que permitem uma análise mais assertiva da capacidade de pagamento dos tomadores de crédito.
Por fim, vale ressaltar que não são esperadas grandes consequências desse imbróglio contábil nos resultados do Banco do Brasil, que ainda serão, em breve, divulgados.
E você é acionista de alguma instituição financeira afetada pelas fraudes da Americanas? Posta aqui nos comentários!
Milton Rabelo
Analista CNPI 2444