Após 166 anos de história, o Credit Suisse chega ao seu fim. O banco, fundado por Alfred Escher, por muito tempo simbolizou a resiliência, a solidez e a estabilidade do sistema bancário suíço. Em 2008, quando a Grande Crise Financeira promoveu um expurgo no sistema bancário, o Credit Suisse sobreviveu sem a necessidade de um resgate pelas autoridades monetárias, diferente do UBS. Embora o banco não tenha saído ileso, foi capaz de resistir. Entretanto, como já diz Warren Buffett, “leva 20 anos para construir uma reputação e 5 minutos para arruiná-la”. O Credit Suisse não seguiu este conselho: gestão ineficiente, como a perda de R$5,5 bilhões relacionada ao fundo Archegos Capital Management além de perdas bilionárias com o Greensil, e inúmeros casos de lavagem de dinheiro. O resultado foi uma perda sistemática de confiança dos clientes, com bilhões de dólares em retirada. O UBS, resgatado em 2008, será o responsável por resgatar o Credit Suisse. A história do Credit Suisse, então, deve se encerrar de forma amarga.
Em outubro de 2022 pude comentar a situação do Credit Suisse do Deutsche Bank, chamando ambos os bancos de “bombas-relógio” (O que está acontecendo com o Credit Suisse? – Blog VGResearch). A última decisão do Banco Central Europeu (BCE), que promoveu um aumento nos juros da zona do euro, aliada ao estresse verificado no setor bancário, fez explodir o prêmio sobre os Credit Default Swaps (CDSs) do Deutsche Bank, títulos de proteção contra o calote caso o banco passe por uma crise de liquidez, por exemplo. De forma geral, um aumento no CDS reflete uma maior probabilidade de insolvência de uma instituição.
No caso do Deutsche Bank, o mercado está precificando uma probabilidade de default de 31% nos sub-bonds (dívidas que devem ser pagas após outras dívidas se o banco entrar em liquidação/falência) e de 16% para os papéis-sênior (dívidas que são prioridade para pagamento em caso de liquidação/falência). O Deutsche Bank é grande demais para falhar e é, por essa razão, que os temores sobre uma possível crise de liquidez na instituição tem gerado ansiedade no mercado. Para se colocar em perspectiva, o banco é a maior instituição financeira da Alemanha, em ativos totais e número de funcionários.
Por um lado, a alta do CDS foi bem menos expressiva do que a alta do CDS verificada para o Credit Suisse: 1000 pontos para o CS e 200 pontos para o Deutsche Bank. Ao olharmos as métricas financeiras e operacionais, verificamos que o Deutsche Bank apresentou, em 2022, o seu maior lucro desde 2007. O ROE é de 11,55%. O grande problema ao olharmos o histórico recente do Deutsche Bank, ao longo dos últimos anos, é a quantidade de “solavancos” em suas principais métricas financeiras e operacionais, ilustrando bem o caminho tortuoso que o banco tem enfrentado.
Por outro lado, algumas rachaduras da instituição são bastante semelhantes às verificadas no Credit Suisse, como uma alavancagem elevada e um portfólio marcado por ativos de baixa liquidez – nada desejável em uma situação de corrida bancária, como a vista no Silicon Valley Bank. Ainda que a situação do Deutsche Bank seja menos crítica do que a do Credit Suisse, existe um componente psicológico que pode ser determinante: corridas bancárias alimentam profecias auto-realizáveis. Uma crise aguda de confiança pode tornar uma instituição solvente em uma instituição insolvente em um curto período.
A situação dos bancos regionais norte-americanos não deve ser negligenciada, sendo um vetor de risco potencial para a economia global.
Lucas Schwarz