Commodities: o que são e como investir nesses ativos

Soja, petróleo, ouro, café. Esses produtos aparecem nas notícias econômicas quase todo dia, mas você sabe o que eles têm em comum? São commodities — produtos básicos que movem a economia mundial.

Quando o preço do petróleo dispara, você paga mais caro na gasolina. Quando a safra de soja vai bem, empresas brasileiras lucram mais e movimentam a economia.

Para quem investe, commodities são uma forma de diversificar a carteira, se proteger da inflação e aproveitar tendências de crescimento global.

Mas como investir nesses produtos? Você precisa comprar barris de petróleo ou sacos de café? Quanto risco existe? Vale a pena para quem está começando?

É o que você vai descobrir a seguir!

O que são commodities?

Commodities são produtos básicos e padronizados, negociados em larga escala no mercado internacional.

A palavra vem do inglês e significa “mercadoria”. Contudo, não é qualquer mercadoria: são produtos que têm as mesmas características independentemente de quem os produziu.

Um saco de soja brasileira tem a mesma qualidade de um saco de soja americana, por exemplo.

Da mesma forma, um barril de petróleo extraído na Arábia Saudita é praticamente igual a um extraído no Texas.

Devido a essa padronização, são produtos que podem ser negociados globalmente sem necessidade de inspeção individual.

Isso se chama fungibilidade: você pode trocar uma unidade por outra sem perder valor ou qualidade.

Para efeito de comparação, commodities são diferentes de produtos industrializados.

Um iPhone não é commodity, porque tem marca, design específico e diferenciação.

Por outro lado, o alumínio usado para fazer o iPhone é commodity — qualquer alumínio com o mesmo grau de pureza serve.

Tipos de commodities

Saco com grãos de soja representando investimento em commodities

As commodities são classificadas em categorias conforme sua origem e uso. Cada tipo tem dinâmicas próprias de mercado. Veja:

Commodities agrícolas

São produtos cultivados, como soja, milho, café, açúcar, algodão, trigo e cacau.

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de commodities agrícolas. Somos líderes na produção de café, açúcar e soja, e estamos entre os principais em milho e algodão.

Essas commodities alimentam tanto o mercado interno quanto o mercado global. A soja, por exemplo, é exportada principalmente para a China, onde vira ração animal e óleo.

Os preços das commodities agrícolas são fortemente influenciados pelo clima. Uma seca prolongada pode reduzir a safra e disparar os preços. Uma colheita recorde, ao contrário, aumenta a oferta e derruba as cotações.

Commodities minerais

São recursos extraídos da terra, como minério de ferro, ouro, cobre, prata, alumínio e níquel.

O minério de ferro é essencial para a produção de aço, usado na construção civil, indústria automobilística e infraestrutura. O Brasil, através da Vale, é um dos maiores exportadores mundiais.

O ouro tem dupla função: é usado na indústria (joias, eletrônicos) e também serve como reserva de valor. Em momentos de crise, investidores compram ouro como proteção, o que eleva seu preço.

Cobre e alumínio são fundamentais para a indústria elétrica e de tecnologia. Qualquer expansão industrial no mundo aumenta a demanda por esses metais.

Commodities energéticas

Incluem petróleo, gás natural e carvão — fontes de energia que movem economias inteiras.

O petróleo é a commodity mais negociada do mundo. Seu preço afeta desde o custo do transporte até o preço de plásticos e produtos químicos. Quando o petróleo sobe, a inflação tende a subir junto.

O gás natural é usado para gerar eletricidade e aquecer residências. Conflitos geopolíticos, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, podem afetar drasticamente o fornecimento e os preços do gás na Europa.

O carvão, apesar de polêmico por questões ambientais, ainda é amplamente usado em países como China e Índia para gerar energia.

Commodities pecuárias

Envolvem a criação de animais, como boi gordo e suínos.

O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de carne bovina. O boi gordo negociado na B3 reflete o preço da arroba, que impacta diretamente o preço da carne no supermercado.

Suínos também são negociados, especialmente em mercados internacionais como Chicago. A China é a maior consumidora de carne suína do mundo, e qualquer mudança na demanda chinesa afeta os preços globais.

Como os preços das commodities são formados?

Diferente de ações, cujo valor depende dos resultados de uma empresa específica, os preços das commodities refletem o equilíbrio entre oferta e demanda global.

Oferta e demanda global

Se a produção mundial de soja aumenta muito e a demanda permanece estável, os preços caem. Se uma grande seca reduz a safra e a demanda continua alta, os preços disparam.

Em 2021, por exemplo, a China comprou volumes recordes de soja brasileira. Ao mesmo tempo, uma seca nos Estados Unidos reduziu a safra americana.

Resultado: o preço da soja disparou, beneficiando produtores brasileiros e empresas exportadoras.

Esse movimento de oferta e demanda acontece em escala global. Não importa apenas o que acontece no Brasil — importa o que acontece nos Estados Unidos, na China, na Argentina, na Índia, entre outros países.

Fatores que influenciam os preços

Existe uma série de fatores que podem mexer com a oferta e a demanda de commodities, incluindo:

  • Clima e safras: secas, geadas, excesso de chuva. Tudo isso afeta a produção agrícola e, consequentemente, os preços.
  • Geopolítica e conflitos: guerras, sanções econômicas, bloqueios comerciais. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, os preços do trigo e do gás natural dispararam porque ambos os países são grandes exportadores.
  • Câmbio (dólar): commodities são negociadas em dólar. Quando o dólar se fortalece, as commodities tendem a ficar mais caras para quem compra em outras moedas, reduzindo a demanda e pressionando os preços para baixo.
  • Crescimento econômico: economias em expansão consomem mais commodities. A China, por exemplo, consome enormes quantidades de minério de ferro, cobre e petróleo. Quando a economia chinesa desacelera, os preços dessas commodities caem.

Volatilidade

Commodities são ativos voláteis. Os preços podem subir ou cair 10%, 20% ou mais em poucas semanas.

Essa volatilidade acontece porque muitos dos fatores que influenciam os preços são imprevisíveis, como:

  • clima;
  • conflitos;
  • decisões políticas.

Para investidores, isso significa oportunidades de ganhos rápidos, mas também riscos elevados. Quem investe em commodities precisa estar preparado para oscilações bruscas.

Por que investir em commodities?

Commodities podem desempenhar papéis importantes dentro de uma carteira diversificada.

Redução de risco total do portfólio

Commodities têm baixa correlação com ações e títulos de renda fixa. Isso significa que, muitas vezes, quando a bolsa cai, as commodities sobem (ou não caem tanto).

Por exemplo, em momentos de crise financeira, o ouro costuma subir enquanto a bolsa despenca, porque investidores buscam ativos considerados “portos seguros”.

Ter uma parte da carteira exposta a commodities pode reduzir o risco total do portfólio, equilibrando os resultados em diferentes cenários econômicos.

Proteção contra inflação

Quando a inflação sobe, o preço das commodities tende a subir também.

Afinal, commodities são insumos básicos da economia. Se o petróleo fica mais caro, o transporte fica mais caro, e isso se reflete nos preços finais dos produtos.

Investir em commodities pode funcionar como uma proteção natural contra a perda de poder de compra causada pela inflação.

Exposição ao crescimento global

Países emergentes, especialmente na Ásia, continuam crescendo e industrializando.

Esse processo consome grandes volumes de commodities — minério de ferro para construir cidades, petróleo para transporte, cobre para infraestrutura elétrica.

Ao investir em commodities, você se expõe a essa tendência de longo prazo de crescimento da demanda global.

Como investir em commodities no Brasil?

Investidor analisando performance de múltiplos ativos para abrir ou manter posições

Você não precisa comprar barris de petróleo ou sacos de soja para investir em commodities. Existem formas práticas e acessíveis de participar do mercado:

Ações de empresas produtoras

A forma mais simples é comprar ações de empresas que produzem ou processam commodities, como:

  • Petrobras (PETR3, PETR4): maior produtora de petróleo do Brasil. Quando o preço do petróleo sobe, os lucros da Petrobras tendem a subir também.
  • Vale (VALE3): uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo. O desempenho da Vale está diretamente ligado ao preço do minério no mercado internacional.
  • JBS (JBSS3): maior produtora de proteína animal do mundo. Exposta aos preços do boi gordo e de outras carnes.
  • Suzano (SUZB3): maior produtora de celulose do mundo. O preço da celulose no mercado internacional afeta diretamente seus resultados.

Ao investir nessas empresas, você tem exposição indireta às commodities, mas também está exposto aos riscos e oportunidades específicos de cada companhia (gestão, dívidas, concorrência).

Contratos futuros

Contratos futuros é a maneira mais tradicional de negociar commodities diretamente, apostando na variação de preço.

Você não compra o produto físico — compra um contrato que representa o direito de comprar ou vender aquela commodity no futuro a um preço definido hoje.

Contudo, contratos futuros são complexos e envolvem alavancagem. Pequenas variações de preço podem gerar grandes lucros ou grandes perdas.

Assim, são recomendados apenas para investidores experientes que entendem bem o funcionamento desses instrumentos.

ETFs de commodities

ETFs (fundos de índice) de commodities replicam o desempenho de índices que acompanham os preços de commodities ou cestas de commodities.

Por exemplo, existem ETFs que acompanham o preço do ouro, do petróleo ou de índices amplos de commodities.

Essa é uma forma mais simples e acessível de investir, sem precisar lidar com contratos futuros ou escolher empresas específicas. Você compra cotas do ETF como se fossem ações, pela B3.

Fundos de investimento

Fundos multimercados podem ter parte de seus recursos alocados em commodities, seja através de contratos futuros, ações de produtoras ou outros instrumentos.

Nesses fundos, você conta com a gestão profissional de especialistas que decidem quando e como se expor a commodities, de acordo com as condições de mercado.

Contudo, fundos cobram taxas de administração e, em alguns casos, taxa de performance. Avalie se os custos compensam.

BDRs de empresas estrangeiras

BDRs permitem investir em empresas globais do setor de commodities sem abrir conta no exterior.

Você pode comprar BDRs de empresas como ExxonMobil (petróleo), Freeport-McMoRan (cobre) ou Newmont (ouro), acessando gigantes internacionais diretamente pela B3.

Riscos de investir em commodities

Commodities oferecem oportunidades, mas também trazem riscos que você precisa conhecer antes de investir.

Alta volatilidade

Os preços de commodities podem oscilar de forma brusca e imprevisível.

Em 2020, o preço do petróleo chegou a ficar negativo por algumas horas devido ao colapso da demanda durante a pandemia. Em 2008, o petróleo bateu US$ 147 por barril e, meses depois, caiu para US$ 40.

Essas oscilações extremas podem gerar grandes perdas se você estiver posicionado no momento errado.

Dependência de fatores externos

Clima, geopolítica, decisões de governos estrangeiros — tudo isso afeta commodities, e nada disso você controla ou prevê com precisão.

Uma seca inesperada, um conflito armado, uma mudança na política econômica chinesa: 

qualquer um desses eventos pode virar o mercado de cabeça para baixo.

Diferente de investir em uma empresa, onde você pode analisar balanços e perspectivas, com commodities você está sujeito a variáveis globais e muitas vezes imprevisíveis.

Complexidade dos derivativos

Se você optar por contratos futuros, estará lidando com instrumentos complexos que exigem conhecimento técnico.

Alavancagem pode amplificar seus ganhos, mas também suas perdas. Você pode perder mais dinheiro do que investiu inicialmente se não souber gerenciar os riscos.

Por isso, contratos futuros são indicados apenas para investidores experientes. Se você está começando, prefira ações de produtoras ou ETFs.

Commodities e a economia brasileira

O Brasil tem papel de destaque no mercado global de commodities, e isso impacta diretamente nossa economia.

Brasil como grande produtor

Somos líderes mundiais na produção de soja, café, açúcar e carne bovina. Também estamos entre os maiores produtores de minério de ferro e petróleo.

Essas exportações representam uma fatia significativa do PIB brasileiro e geram empregos em diversos setores, desde o agronegócio até a mineração.

Quando os preços das commodities sobem no mercado internacional, o Brasil se beneficia: aumentam as receitas de exportação, entram mais dólares no país, empresas lucram mais e recolhem mais impostos.

Impacto no dólar e na bolsa

Quando os preços das commodities sobem, o real tende a se fortalecer em relação ao dólar.

Isso acontece porque aumenta a entrada de dólares no país através das exportações. Mais oferta de dólares no mercado pressiona a moeda americana para baixo.

Além disso, empresas exportadoras de commodities, como Vale e Petrobras, têm suas ações valorizadas quando os preços sobem. Como essas empresas têm grande peso no Ibovespa, o índice da bolsa costuma subir junto.

Por outro lado, quando os preços caem, o efeito é inverso: o dólar sobe, a bolsa cai, e a economia desacelera.

Perguntas frequentes

Posso investir diretamente em commodities físicas?

Tecnicamente sim, mas não é prático nem recomendado para a maioria das pessoas. Você pode comprar ouro físico (barras, moedas), mas precisa arcar com custos de armazenamento e segurança. Commodities agrícolas e energéticas são inviáveis para investidores individuais. O mais prático é investir através de ações, ETFs ou fundos.

Qual o valor mínimo para investir em commodities?

Depende da forma escolhida. Ações de empresas produtoras podem ser compradas a partir de algumas dezenas de reais (o preço de uma ação). ETFs seguem a mesma lógica. Já contratos futuros exigem capital maior e margem de garantia, geralmente na casa dos milhares de reais.

Commodities são indicadas para iniciantes?

Sim e não. Investir em ações de produtoras ou ETFs é acessível para iniciantes e pode fazer sentido como parte da diversificação. Já contratos futuros e operações mais complexas não são recomendados para quem está começando. Entenda bem os riscos antes de alocar uma parte significativa do seu patrimônio em commodities.

Conclusão

Por fim, commodities são ativos importantes que movimentam a economia global e podem fazer parte da sua estratégia de investimentos.

Elas oferecem diversificação, proteção contra inflação e exposição ao crescimento de economias emergentes. Contudo, são voláteis e dependem de fatores difíceis de prever.

Se você quer incluir commodities na sua carteira, comece pelas formas mais simples: ações de empresas produtoras como Petrobras e Vale, ou ETFs que replicam índices de commodities.

Deixe contratos futuros e operações complexas para quando tiver mais experiência e conhecimento técnico.

Invista com consciência, entenda os riscos e não concentre todo o seu patrimônio nessa classe de ativos.

Leia também: vantagens, riscos e como começar a investir em dólar!

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