Na última quarta-feira, tanto COPOM quanto o FED expressaram ao mercado novas decisões sobre as taxas básicas de juros no Brasil e nos EUA, respectivamente. Na primeira “super quarta-feira”, desde a eclosão da crise bancária iniciada há duas semanas, os efeitos dela ainda parecem impactar de forma branda as políticas monetárias postas em prática, sobretudo no Brasil.
O presidente do FED, Jerome Powell, afirmou que a crise bancária deve afetar famílias e empresas, porém ainda é cedo para dizer como a política monetária deve intervir. Dessa forma, o chairman do FED afirmou que as famílias e as empresas serão afetadas, já que a crise bancária proporcionará condições mais restritivas de concessão de crédito, o que deve provocar algumas consequências em termos de resultados econômicos.
Powell defendeu, dessa maneira, que ainda não é possível determinar a extensão dos efeitos da crise bancária e, por isso, “muito cedo para dizer como a política monetária deve responder” ao movimento que afetou bancos europeus e americanos e europeus, como Credit Suisse, SVB, Signature, First Republic.
No entanto, o presidente da autoridade monetária norte-americana chegou a dizer que foi cogitada a suspensão de aumentos das taxas de juros após o colapso do SVB. No final das contas, o FED optou por realizar um aumento de 0,25% da taxa, uma elevação menor do que poderia ser imaginado há algumas semanas, dados a alta dos preços e o aquecimento do mercado de trabalho nos EUA.
Já, no Brasil, conforme esperado, o Copom optou pela manutenção da taxa Selic a 13,75% e sinalizou que a taxa básica de juros deve ser mantida em patamares elevados por algum tempo. Em um claro recado às pressões do Governo Lula, o comunicado emitido foi mais duro do que o esperado e enfatizou que os próximos passos da política monetária poderão ser ajustados, destacando que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não aconteça como o esperado.
A crise bancária internacional afetará o sistema financeiro brasileiro?
Evidentemente, que a crise bancária iniciada há duas semanas ainda terá os seus desdobramentos, cujos detalhes temos dificuldade de antecipar, porém existem evidências que levam a crer que os seus impactos no ecossistema bancário brasileiro serão limitados.
Em primeiro lugar, é interessante apontar que o sistema bancário brasileiro é altamente regulado e impede um nível muito elevado de alavancagem de créditos e empréstimos como acontece nos EUA, por exemplo.
Além disso, é interessante notar que, apesar do surgimento de inúmeras fintechs nos últimos anos, o mercado brasileiro ainda é extremamente concentrado, o que facilita a fiscalização do Banco Central, como órgão regulador. Para se ter uma noção, 80% da oferta de créditos e empréstimos é realizada por 5 instituições financeiras: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Santander e Itaú.
Dessa forma, as instituições financeiras brasileiras, de maneira geral, são financeiramente muito saudáveis, têm liquidez em patamares adequados e índices de Basileia bastante satisfatórios. Por outro lado, os bancos locais também estão numa situação desafiadora, ainda que sejam por outros motivos, entre os quais podemos elencar:
- Restrições de crédito para pessoas físicas e jurídicas em função do cenário macroeconômico bastante desafiador;
- Restrições de crédito corporativo, sobretudo após a identificação de fraudes contábeis na Americanas, que levantaram incertezas a respeito da capacidade de pagamento das empresas;
- Pressões políticas do Governo Lula a respeito das taxas do crédito consignado;
- Rumores de uma regulamentação de teto de juros para cartão de crédito.
E você ficou com alguma dúvida? Deixe as suas perguntas nos comentários e até a próxima!
Milton Rabelo
Analista CNPI 2444