Bovespa: conheça a história da bolsa de valores brasileira

Mesmo quem nunca investiu já ouviu o nome Bovespa nos noticiários, geralmente associado às altas e quedas do mercado financeiro.

Por décadas, esse foi o nome da bolsa de valores brasileira, o ambiente onde empresas captavam recursos e investidores negociavam ações. A Bovespa se tornou sinônimo de mercado de capitais no país.

Se você está começando a investir, entender sua história ajuda a compreender como o mercado financeiro brasileiro evoluiu até aqui. E também por que, desde 2017, a Bovespa deixou de existir como entidade independente.

Nos próximos tópicos, vamos te explicar o que foi a Bovespa, sua trajetória ao longo de mais de um século, as fusões que deram origem à B3 e o que mudou para quem investe.

O que foi a Bovespa?

A Bovespa — sigla para Bolsa de Valores de São Paulo — foi, durante décadas, a principal bolsa de valores do Brasil.

Fundada em 1890, a bolsa conectava investidores a empresas brasileiras que buscavam capital, permitindo a compra e venda de ações para financiar a expansão dos negócios.

Ao longo da maior parte de sua história, a Bovespa funcionou como uma associação civil sem fins lucrativos, mantida pelas próprias corretoras que operavam nela.

Seu papel era fornecer regras, infraestrutura e segurança para que as negociações acontecessem de forma transparente.

A Bovespa foi determinante para o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro. Foi por meio dela que empresas como Petrobras, Vale e Itaú, por exemplo, captaram recursos para financiar projetos, crescer e gerar empregos.

Para os investidores, ela era a única porta de entrada no mercado acionário brasileiro. Sem a Bovespa, simplesmente não teria existido um mercado organizado de ações no país.

História da Bovespa: da fundação à B3

A trajetória da Bovespa atravessa mais de 130 anos de história econômica brasileira, acompanhando crises, crescimentos e transformações profundas.

A fundação (1890)

A Bolsa de Valores de São Paulo foi fundada em 23 de agosto de 1890, durante o período conhecido como Encilhamento — uma bolha especulativa que marcou os primeiros anos da República no Brasil.

Naquela época, o mercado financeiro brasileiro era incipiente. Poucas empresas tinham ações negociadas, e as operações eram realizadas de forma rudimentar, sem a estrutura tecnológica ou regulatória que conhecemos hoje.

As primeiras negociações aconteciam em um ambiente físico, onde corretores se reuniam para fechar negócios.

O volume era pequeno, a liquidez baixa, e o mercado restrito a poucos participantes.

Ainda assim, a fundação da Bovespa representou um marco: o Brasil passava a ter um espaço formal e organizado para a negociação de valores mobiliários.

Décadas de evolução (1900-1990)

Ao longo do século XX, a Bovespa cresceu junto com a economia brasileira.

Nas décadas de 1950 e 1960, o país passou por um processo de industrialização acelerada. Grandes empresas surgiram e muitas abriram capital, listando suas ações na bolsa. Assim, o volume de negociações aumentou.

Nos anos 1970, o governo militar incentivou o mercado de capitais como forma de financiar o desenvolvimento econômico. Então, foram criadas as primeiras regulamentações mais estruturadas e surgiram incentivos fiscais para investidores.

Contudo, crises econômicas, hiperinflação e instabilidade política marcaram as décadas de 1980 e início dos anos 1990. O mercado acionário enfrentou períodos de baixa liquidez e desconfiança.

Foi só a partir do Plano Real, em 1994, que a Bovespa começou a se consolidar como um mercado mais estável e atrativo para investidores.

Desmutualização (2007)

Um dos marcos mais importantes da história da Bovespa aconteceu em 2007: a desmutualização.

Até então, a Bovespa era uma associação civil sem fins lucrativos, controlada pelas corretoras que operavam nela. Esse modelo limitava a capacidade de investimento, modernização e expansão da bolsa.

A desmutualização transformou a Bovespa em uma empresa com fins lucrativos, a Bovespa Holding S.A. Essa mudança permitiu que a própria bolsa abrisse capital e captasse recursos no mercado para investir em tecnologia, infraestrutura e expansão internacional.

Em outubro de 2007, as ações da Bovespa Holding começaram a ser negociadas na própria bolsa, sob o ticker BOVH3. Era a bolsa se tornando uma empresa listada em si mesma.

Fusão com a BM&F (2008)

Em maio de 2008, a Bovespa anunciou sua fusão com a BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), criando a BM&FBovespa.

A BM&F era responsável pela negociação de derivativos, contratos futuros, opções e commodities agrícolas. Por outro lado, a Bovespa focava no mercado de ações e renda variável.

A fusão uniu dois mundos complementares: o mercado à vista (ações) e o mercado de derivativos (futuros, opções, commodities).

Isso fortaleceu a posição da bolsa brasileira no cenário internacional e ofereceu mais produtos e ferramentas para investidores.

A partir desse momento, a BM&FBovespa se tornou uma das maiores bolsas do mundo em valor de mercado, competindo com grandes players globais.

Fusão com a Cetip e criação da B3 (2017)

O passo final dessa evolução aconteceu em março de 2017, quando a BM&FBovespa se fundiu com a Cetip, criando a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão).

A Cetip era responsável pelo registro, custódia e liquidação de títulos de renda fixa, como CDBs, LCIs, LCAs e debêntures. Ela operava o mercado de balcão organizado, complementando o mercado de bolsa.

Com essa fusão, toda a infraestrutura do mercado financeiro brasileiro — renda variável, renda fixa e derivativos — passou a ser centralizada em uma única instituição: a B3.

Esse movimento consolidou o Brasil como um dos poucos países do mundo com uma bolsa totalmente integrada, oferecendo todos os produtos e serviços em uma plataforma única.

O que mudou para o investidor na B3?

A fusão que criou a B3 trouxe mudanças práticas para quem investe. Entre as principais, destacamos:

  • Centralização de serviços: antes, você negociava ações na Bovespa, derivativos na BM&F e títulos de renda fixa na Cetip. Agora, tudo está sob a mesma estrutura, facilitando o acesso e a gestão dos investimentos.
  • Mais produtos disponíveis: a integração permitiu que novos produtos fossem criados e oferecidos de forma mais eficiente. ETFs, fundos imobiliários, debêntures incentivadas e outros ativos passaram a ter mais liquidez e visibilidade.
  • Plataforma única: embora você continue operando pela sua corretora, toda a infraestrutura por trás das negociações — registro, compensação, liquidação, custódia — está unificada na B3. Isso reduz custos operacionais e aumenta a segurança do sistema.

Para o investidor iniciante, a principal mudança é conceitual: você não está mais “investindo na Bovespa”, mas sim “investindo na B3”. O nome mudou, mas a função continua a mesma.

Do pregão viva-voz ao pregão eletrônico

Investidores em pregão físico do Bovespa antigamente comprando e vendendo ações

A forma como as negociações aconteciam na Bovespa mudou radicalmente ao longo das décadas.

Como funcionava o pregão tradicional?

Até o final dos anos 1990, as negociações na Bovespa aconteciam no pregão viva-voz, um ambiente físico onde operadores se reuniam para fechar negócios.

Era um grande salão cheio de pessoas, todas vestindo coletes coloridos que identificavam as corretoras para as quais trabalhavam. Elas gritavam ofertas de compra e venda, gesticulavam, anotavam ordens em papéis e corriam de um lado para o outro.

Era barulhento, caótico e intenso. O pregão começava às 10h e terminava às 17h. Tudo o que acontecia ali definia os preços das ações naquele dia.

Contudo, esse modelo tinha limitações óbvias: dependia da presença física dos operadores, era lento, sujeito a erros e pouco acessível para investidores fora de São Paulo.

A transição para o digital

A modernização começou nos anos 1990, com a introdução gradual de sistemas eletrônicos.

Em 1997, a Bovespa lançou o Mega Bolsa, o primeiro sistema totalmente eletrônico de negociação. A partir desse momento, as ordens passaram a ser enviadas por computadores, processadas automaticamente e executadas em milissegundos.

O pregão viva-voz foi oficialmente encerrado em 2005. A partir daí, todas as negociações passaram a acontecer no pregão eletrônico.

Hoje, quando você envia uma ordem de compra pelo home broker da sua corretora, o sistema da B3 recebe a ordem, encontra uma venda compatível e executa a operação instantaneamente. Tudo digital, rápido e rastreável.

Essa transição democratizou o acesso ao mercado. Investidores de qualquer lugar do Brasil podem operar na bolsa com a mesma facilidade de quem está em São Paulo.

O que é negociado na Bovespa / B3?

Embora o nome Bovespa não seja mais oficial, o mercado que ela representava continua ativo dentro da B3. Veja os principais ativos negociados:

Ações

Ações são pequenas partes de empresas. Ao comprar uma ação, você se torna sócio e pode lucrar com a valorização do preço ou com o recebimento de dividendos.

A Bovespa sempre foi conhecida como o mercado de ações brasileiro. Empresas como Petrobras (PETR3, PETR4), Vale (VALE3), Itaú (ITUB4), Ambev (ABEV3) e centenas de outras têm suas ações negociadas ali.

Existem dois tipos principais de ações:

  • Ordinárias (ON): dão direito a voto nas assembleias da empresa. Geralmente terminam com o número 3 no ticker (ex: PETR3).
  • Preferenciais (PN): não dão direito a voto, mas têm preferência no recebimento de dividendos. Geralmente terminam com o número 4 (ex: PETR4).

Fundos Imobiliários (FIIs)

Em resumo, fundos imobiliários são uma forma de investir em imóveis sem precisar comprá-los diretamente.

Você compra cotas de um fundo que possui shoppings, galpões logísticos, lajes corporativas ou outros imóveis, por exemplo. Então, o fundo recebe aluguéis e distribui esses rendimentos mensalmente aos cotistas.

Os FIIs começaram a ganhar popularidade na Bovespa a partir dos anos 2000 e hoje são uma das classes de ativos mais procuradas por investidores que buscam renda passiva.

As cotas dos FIIs são negociadas como ações, com códigos de quatro letras seguidos do número 11 (ex: HGLG11, KNRI11).

ETFs

ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos de índice negociados na bolsa.

Em vez de escolher ações uma por uma, você compra uma cota de ETF e passa a ter exposição a todas as empresas que compõem determinado índice, como o Ibovespa.

Por exemplo, ao investir no ETF BOVA11, você está comprando um pedaço de todas as ações que compõem o Ibovespa. É uma forma simples e eficiente de diversificar.

Os ETFs começaram a ser negociados na Bovespa nos anos 2000 e hoje existem dezenas de opções, replicando índices brasileiros, setoriais e até internacionais.

Derivativos

Derivativos são contratos financeiros cujo valor deriva de outro ativo, como ações, índices, moedas ou commodities.

Os principais tipos negociados na Bovespa (hoje B3) são:

  • Opções: dão o direito (mas não a obrigação) de comprar ou vender um ativo por um preço definido até uma data limite.
  • Contratos futuros: acordos de compra ou venda de um ativo por um preço fixo em uma data futura. São usados para proteção (hedge) ou especulação.
  • Contratos a termo: similares aos futuros, mas personalizados entre as partes. Não têm ajuste diário — o acerto acontece apenas no vencimento. São menos padronizados e mais usados por instituições.
  • Swaps: contratos de troca de fluxos financeiros entre duas partes. O mais comum é o swap de taxa, em que uma parte paga juros fixos e recebe juros variáveis (ou vice-versa). São utilizados principalmente por empresas e investidores qualificados para gestão de risco.

Derivativos são produtos mais avançados. Assim, são recomendados para investidores com conhecimento técnico e controle de risco.

Principais índices da Bovespa

Índices são ferramentas que medem o desempenho de um grupo de ações, funcionando como termômetros do mercado.

Ibovespa

O Ibovespa é o principal índice da bolsa brasileira.

Ele reúne as ações mais negociadas da B3, representando cerca de 80% do volume total de negociações. Empresas como Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, Ambev e outras gigantes compõem o índice.

O Ibovespa funciona como uma carteira teórica. A B3 seleciona as empresas com base em critérios como liquidez (volume de negociação) e representatividade, e acompanha o desempenho conjunto dessas ações.

Se o Ibovespa subiu 10% no ano, significa que, em média, as principais ações da bolsa subiram esse percentual. Se caiu 5%, o mercado como um todo recuou.

Para investidores, o Ibovespa serve como referência de desempenho. Se sua carteira rendeu 8% e o índice subiu 12%, por exemplo, você ficou abaixo do mercado.

Outros índices relevantes

  • Small Cap (SMLL): acompanha o desempenho das empresas de menor capitalização da bolsa. São empresas menores, com maior potencial de crescimento, mas também mais voláteis.
  • IBrX 100: reúne as 100 ações mais negociadas da B3, oferecendo uma visão mais ampla do mercado que o Ibovespa.
  • Índices setoriais: medem o desempenho de setores específicos da economia:
    • IFNC: setor financeiro (bancos, seguradoras)
    • ICON: setor de consumo (varejo, alimentos, bebidas)
    • UTIL: utilidade pública (energia elétrica, saneamento, gás)

Esses índices ajudam investidores a comparar o desempenho da sua carteira com o mercado ou com setores específicos.

O papel da Bovespa para a economia brasileira

A Bovespa desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento econômico do Brasil.

Captação de recursos para empresas

Quando uma empresa abre capital — ou seja, oferece suas ações ao público pela primeira vez — ela capta dinheiro de investidores para financiar seus projetos.

Esse processo é chamado de IPO (oferta pública inicial). A empresa vende parte de seu capital para captar recursos e usá-los na expansão de fábricas, no desenvolvimento de produtos, na contratação de pessoas ou no pagamento de dívidas, por exemplo.

Depois do IPO, a empresa pode fazer novas ofertas de ações (follow-ons) para captar ainda mais recursos conforme cresce.

A Bovespa viabilizou centenas de IPOs ao longo de sua história, permitindo que empresas de todos os tamanhos e setores tivessem acesso a capital para crescer.

Acesso a investimentos para pessoas físicas

Antes da popularização da internet e das corretoras digitais, investir na Bovespa era privilégio de poucos.

Você precisava ir fisicamente a uma corretora, preencher formulários, pagar taxas altas e lidar com um processo burocrático.

A partir dos anos 2000, com a digitalização do mercado e o surgimento de corretoras online, investir na bolsa se tornou acessível para qualquer pessoa com um celular e acesso à internet.

Hoje, milhões de brasileiros têm conta em corretoras e investem na B3. Essa democratização do acesso ao mercado de capitais é um dos legados mais importantes da evolução da Bovespa.

Perguntas frequentes

A Bovespa ainda existe?

Não como entidade independente. A Bovespa deixou de existir oficialmente em 2017, quando se fundiu com a Cetip para criar a B3. Contudo, o mercado que ela representava — a negociação de ações e outros ativos — continua ativo dentro da B3.

Qual a diferença entre Bovespa e B3?

Bovespa era a Bolsa de Valores de São Paulo, focada principalmente em ações. B3 é a bolsa brasileira atual, que integra renda variável (ações, FIIs, ETFs), renda fixa (CDBs, debêntures, títulos públicos) e derivativos (futuros, opções, a termo e swaps). A B3 é o resultado da fusão da Bovespa com a BM&F e a Cetip.

Posso ainda falar “Bovespa” ou está errado?

Tecnicamente, o correto é falar “B3”. Contudo, muitas pessoas ainda usam “Bovespa” por hábito, especialmente para se referir ao mercado de ações. Não é um erro grave, mas o nome oficial mudou em 2017. Aos poucos, o termo B3 está se popularizando.

Conclusão

Investidor analisando movimentos de ações na B3 junto de dados da empresas mostrando praticidade de operar

Por fim, a Bovespa foi a instituição que construiu e estruturou o mercado de capitais brasileiro ao longo de mais de um século.

Desde sua fundação em 1890 até a fusão que criou a B3 em 2017, ela passou por transformações profundas:

  • deixou de ser uma associação civil para se tornar uma empresa lucrativa
  • incorporou a BM&F e a Cetip;
  • modernizou seus sistemas;
  • democratizou o acesso aos investimentos.

Hoje, o legado da Bovespa vive na B3, a maior e mais completa bolsa de valores da América Latina.

O nome mudou, mas a essência permanece: conectar empresas que precisam de capital a investidores que buscam oportunidades.

Artigos Relacionados

Porque assinar a nossa newsletter?

Notícias Notícias

Os nossos analistas realizam uma curadoria cuidadosa das principais notícias sobre a bolsa de valores e nós te enviamos, por e-mail, a visão da VG Research sobre como isso pode impactar os seus investimentos.

Artigos Artigos

Tenha acesso a artigos completos e detalhados, toda a semana, sobre os principais temas relacionados à investimentos, empresas e economia.

Vídeos Vídeos

Aulas online e gratuitas sobre a bolsa de valores para te ajudar a entender mais sobre o universo das ações e saber tomar melhores decisões com os seus investimentos, sempre com foco em crescimento de patrimônio e aumento da renda passiva.