O Lucro Real é um dos regimes tributários mais importantes do Brasil — e também um dos que mais causam dúvidas.
Não é para menos: a empresa calcula os impostos com base no lucro realmente apurado, depois de todos os ajustes previstos em lei. Nada de estimativas ou porcentagens fixas.
À primeira vista, pode até parecer um sistema complexo. Mas entender como ele funciona é essencial para qualquer negócio que busca transparência, segurança e eficiência no planejamento tributário.
Ao longo deste conteúdo, você vai ver de forma simples o que é o Lucro Real, como ele funciona na prática e por que esse regime pode fazer diferença nas finanças da sua empresa.
Vamos começar?
O que é Lucro Real?
Em resumo, Lucro Real é o regime em que a empresa calcula o IRPJ e a CSLL com base no lucro que realmente obteve, depois de todos os ajustes exigidos pela legislação fiscal.
Na prática, tudo começa pelo resultado contábil — lucro ou prejuízo — e a empresa faz as adições, exclusões e compensações previstas em lei para chegar ao lucro fiscal.
É o regime que mais reflete a realidade financeira da empresa, porque considera receitas, despesas e resultados efetivos, e não estimativas.
Como funciona o regime de Lucro Real?
O funcionamento do Lucro Real segue essa lógica:
- a empresa apura o lucro líquido do exercício seguindo as normas contábeis (CPCs);
- em seguida, aplica os ajustes fiscais, que corrigem diferenças entre a contabilidade societária e o que a lei tributária permite ou exige;
- o resultado desse processo é o lucro real tributável — a base usada para calcular os impostos.
Sobre esse lucro, incidem:
- IRPJ: 15% + adicional de 10% sobre a parcela do lucro que exceder R$ 20.000,00 por mês;
- CSLL: 9% para a maior parte das empresas.
Quem é obrigado ao Lucro Real?
Segundo a Lei, algumas empresas são obrigadas a utilizar o Lucro Real, independentemente do porte ou do faturamento. Entre elas estão:
- instituições financeiras, como bancos, seguradoras, corretoras e financeiras;
- empresas com receita bruta anual acima de R$ 78 milhões;
- negócios que obtenham lucros, rendimentos ou ganhos de capital no exterior;
- empresas beneficiadas por incentivos fiscais, como redução ou isenção do Imposto de Renda;
- companhias que optam por certos incentivos, como o uso de Juros sobre Capital Próprio (JCP).
Lucro Real trimestral e anual
A empresa pode escolher entre duas formas de apuração no regime:
Trimestral
A empresa calcula o lucro a cada trimestre civil (março, junho, setembro e dezembro) e paga os tributos de forma definitiva. Porém, não pode compensar prejuízos de um trimestre nos trimestres seguintes, o que reduz a flexibilidade.
Anual
O lucro é apurado apenas no final do ano. Durante o ano, a empresa recolhe mensalmente IRPJ e CSLL por estimativa — usando balancetes ou percentuais sobre a receita.
Nesse modelo, prejuízos acumulados podem reduzir o lucro tributável de períodos futuros, respeitando o limite de compensação de 30%.
Em resumo: o modelo trimestral oferece simplicidade e previsibilidade; o anual, mais flexibilidade e oportunidades de planejamento tributário.
Como calcular o Lucro Real?
O cálculo do Lucro Real segue uma ordem lógica e bem estruturada. De forma simples, o processo funciona assim:
- Apuração do lucro contábil: tudo começa pelo resultado registrado na contabilidade, seguindo as normas societárias.
- Adições: aqui entram despesas que não podem ser deduzidas fiscalmente.
- Exclusões: nessa etapa, são retiradas receitas que não são tributáveis.
- Compensações: quando permitido, a empresa pode usar prejuízos fiscais de anos anteriores para reduzir a base de cálculo (até o limite de 30%).
- Determinação do lucro real: após todos os ajustes, chegamos ao valor efetivamente tributável.
- Cálculo dos tributos: com o lucro real definido, são aplicadas as alíquotas de IRPJ e CSLL.
Esse processo exige atenção constante da contabilidade, já que as regras mudam com frequência e a Receita Federal costuma atualizar orientações e interpretações.
Adições e exclusões ao lucro contábil
No Lucro Real, o lucro contábil passa por ajustes que aproximam o resultado da empresa das regras fiscais. Esses ajustes são divididos em adições e exclusões:
- Adições: aumentam o lucro fiscal, pois correspondem a despesas que não são dedutíveis para fins de imposto. Entre os exemplos mais comuns estão multas fiscais, doações, gastos pessoais de sócios e provisões que não têm respaldo legal.
- Exclusões: reduzem o lucro tributável, já que representam receitas que não sofrem incidência de imposto. Aqui entram receitas isentas, subvenções para investimento e lucros de participações avaliadas por equivalência patrimonial.
A empresa controla todos esses ajustes no Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR), ferramenta central para manter a apuração alinhada às exigências fiscais.
Vantagens do Lucro Real
Apesar de mais complexo, o regime oferece benefícios significativos para muitas empresas:
- apuração mais justa dos tributos, baseada no resultado real do negócio;
- possibilidade de compensar prejuízos fiscais (até 30% do lucro líquido ajustado);
- aproveitamento de incentivos fiscais e créditos de PIS/COFINS;
- evita a tributação sobre lucros que, na prática, não existem.
Desvantagens do Lucro Real
O Lucro Real também tem seus desafios e limitações. Veja os principais:
- exige equipe contábil qualificada e processos administrativos rigorosos;
- maior custo operacional devido ao detalhamento de receitas e despesas;
- maior exposição a fiscalizações, pela transparência e detalhamento do regime.
Por isso, o regime é mais indicado para empresas com estrutura contábil sólida e margem de lucro menor, que podem se beneficiar das deduções e créditos fiscais disponíveis.
Lucro Real x Lucro Presumido
A principal diferença entre os dois regimes está na forma de apuração do lucro tributável:
| Aspecto | Lucro Real | Lucro presumido |
| Base do cálculo | Lucro contábil ajustado | Percentual fixo sobre a receita |
| Complexidade | Alta | Baixa |
| Compensação de prejuízos | Permitida (limitada a 30% | Não permitida |
| Controle contábil | Completo | Simplificado |
| Indicação | Margem de lucro baixa ou variada | Margem previsível e alta |
Quando optar pelo Lucro Real?
Escolher o Lucro Real não é uma decisão aleatória. Isso porque é preciso analisar com cuidado a realidade financeira da empresa e entender se o regime realmente traz vantagens.
Como envolve regras detalhadas e apuração complexa, contar com um profissional especializado em planejamento tributário é essencial.
Um bom planejamento ajuda a identificar se o regime é a opção mais eficiente, considerando não só a carga tributária, mas também fluxo de caixa, previsibilidade dos resultados e estratégias de crescimento da organização.
Para os investidores
Investidores também se beneficiam de compreender o Lucro Real. Empresas que adotam esse regime apresentam resultados mais fiéis à realidade econômica, reduzindo distorções e oferecendo uma visão precisa de rentabilidade, eficiência operacional e carga tributária efetiva.
Além disso, a exigência de controles internos robustos e práticas contábeis consistentes aumenta a confiança de quem investe, permitindo decisões mais seguras e fundamentadas.
Conclusão
Por fim, Lucro Real é uma opção transparente e precisa para calcular tributos, indicada para empresas que querem alinhamento entre contabilidade e legislação fiscal.
Apesar de exigir controle rigoroso e conhecimento técnico, pode gerar economia tributária significativa quando bem administrado.
Compreender como ele funciona é o primeiro passo para tomar decisões mais inteligentes, planejar melhor os impostos e fortalecer a saúde financeira do negócio.