Quando pensamos na imagem de um investidor, geralmente nos vem à mente o estereótipo da figura masculina, bem trajada e sucedida. E os dados do mercado financeiro confirmam essa impressão, indicando uma predominância masculina nesse campo. Porém, essa imagem estereotipada, embora enraizada, está em transformação.
O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade não só para celebrar as conquistas das mulheres, mas também destacar sua crescente influência em áreas ainda dominadas pelos homens, incluindo o mundo dos investimentos.
Como surgiu a data?
Não há um evento específico que explique sua origem: a data nasceu de um conjunto de movimentos no final do século 19 e começo do século 20 contra as péssimas condições de trabalho às quais as trabalhadoras eram submetidas. Uma delas foi a manifestação de 1909, em Nova York, onde mulheres que trabalhavam na fábrica têxtil entraram em greve, reivindicando melhores condições de trabalho e o voto feminino. Elas se reuniram em uma passeata que teve a presença de aproximadamente 15 mil mulheres.
O incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist Company, em 1911, também foi um marco histórico decisivo para a criação da data. A tragédia deixou 146 vítimas, sendo 125 mulheres e 21 homens. A fábrica empregava 600 trabalhadores, a maioria de meninas e mulheres imigrantes judias e italianas entre 13 e 23 anos.
Além de reivindicar “o mínimo de dignidade”, as mulheres lutavam contra o trabalho infantil, já que era comum que até mesmo seus filhos passassem por situações similares.
A mulher e o mercado financeiro
Essa luta histórica pela igualdade de gênero ressoa até os dias atuais, inclusive no universo financeiro. De acordo com o relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, em todo o mundo as mulheres têm menor acesso a recursos financeiros, menos oportunidades de emprego e frequentemente têm rendimentos inferiores aos dos homens que ocupam funções similares. Esses fatores contribuem para a diferença de riqueza e para a desigualdade econômica de gênero.
No Brasil, cerca de 1,3 milhão de mulheres estão na Bolsa de Valores. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer em termos de representatividade e diversidade nesse espaço. A diferença na quantidade de homens e mulheres tem ficado maior nos últimos três anos. O volume da chegada de novas investidoras reduziu após um período de expansão significativa, enquanto o de homens se mantém. Em 2020 elas representavam 26,24% das pessoas com ações ou outros ativos na B3. Com sucessivas quedas percentuais nos anos seguintes, em 2023, as mulheres são 22,89% dos investidores.
Porém, pesquisas mostram que as mulheres têm um desempenho melhor que os homens quando se trata de investir na Bolsa. Sua abordagem tende a ser mais disciplinada, focada no longo prazo e fundamentada em análises sólidas. Essa postura cautelosa não apenas contribui para resultados financeiros mais consistentes, mas também fortalece a resiliência dos investimentos diante de volatilidades do mercado.
Razão x emoção
Apesar da desigualdade entre os gêneros, as mulheres ganham mais dinheiro do que os homens em seus investimentos.
Há uma teoria de que elas são mais emocionais do que os homens, e que isso pode ser prejudicial na hora de tomar decisões, especialmente nos investimentos. No entanto, pesquisas sobre economia comportamental mostram o contrário.
O tempo também é uma variável importante. Investir com pressa pode levar a decisões precipitadas, que não avaliam os prós e os contras. Isso frequentemente leva a arrependimentos posteriores. E segundo as pesquisas, elas tendem a tirar um tempo para pensar e fazer pesquisas antes de tomar decisões com quantias relevantes. Já os investidores esperam menos e são menos propensos a questionar suas decisões.
Elas não são tão imediatistas ao optar por um investimento. As mulheres tendem a planejar, pensar no futuro dos filhos e da família. Enquanto muitos homens têm um maior senso de urgência em relação ao mercado financeiro. Geralmente, quando eles aplicam na bolsa, querem ganhar muito rápido, ou, quando têm prejuízo, tomam decisões com base na emoção. A mulher consegue controlar um pouco melhor essa emoção, até porque toma menos riscos do que os homens nos portfólios.
3 mulheres no mercado financeiro
Para incentivar as mulheres que querem investir ou aquelas que desejam aprender mais sobre o assunto, separamos três inspirações femininas do mercado financeiro.
Você vai adorar conhecê-las!
- Ana Leoni – fundadora do Dinheiro com Atitude
Ana Leoni conta com mais de 27 anos de experiência no mercado financeiro, sendo seus últimos 16 dedicados à educação financeira.
Ana é fundadora do projeto “Dinheiro com Atitude”, que surgiu da vontade de ajudar pessoas a terem uma relação mais saudável com o dinheiro.
Sua carreira também conta com passagens por Unibanco, Private Banker e Brasilpar.
2. Cristina Junqueira – cofundadora do Nubank
Outra mulher de destaque no mundo dos investimentos e dos negócios é Cristina Junqueira, de 39 anos.
Ela já tinha uma trajetória no mercado financeiro antes de se juntar ao colombiano David Vélez para fundar o Nubank (NUBR33). Junqueira passou por empresas como Itaú Unibanco, Boston Consulting Group e Booz Allen Hamilton.
3. Zeina Latif – economista
Considerada uma das economistas mais influentes do Brasil, Zeina Latif foi economista-chefe da XP Investimentos entre 2014 e 2020.
Ela tem passagens pelo HSBC, ING e Royal Bank of Scotland. É mestre e doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP).
Atualmente é sóciadiretora da Gibraltar Consulting.