Quando se pensa em investir nos Estados Unidos, ações do S&P 500 são as primeiras que vem à mente. Afinal, as maiores empresas do mundo estão lá, como Apple, Microsoft e Amazon. Mas existe um mercado ainda maior e menos conhecido: o de renda fixa em dólar.
Segundo a SIFMA, o mercado global de títulos de dívida movimentou mais de US$ 140 trilhões em 2024 — três vezes mais que o mercado de ações. Só nos Estados Unidos, são US$ 45,4 trilhões em bonds, incluindo títulos do Tesouro americano, corporativos e municipais.
Para investidores brasileiros, a renda fixa em dólar oferece vantagens importantes:
- diversificação internacional;
- acesso a títulos de maior qualidade e segurança;
- proteção cambial;
- redução da exposição ao risco Brasil.
Enquanto a renda fixa brasileira paga juros altos porque o país é mais arriscado, títulos americanos oferecem previsibilidade e estabilidade em uma das economias mais sólidas do mundo.
Logo abaixo, vamos te explicar o funcionamento da renda fixa em dólar, quais são os principais tipos de títulos disponíveis, como investir do Brasil e por que essa classe de ativos merece espaço na sua carteira.
Boa leitura!
Mas o que é a renda fixa em dólar e por que ela importa?
Em resumo, renda fixa em dólar é qualquer investimento que paga juros previsíveis e cuja remuneração está atrelada à moeda americana.
Para o investidor brasileiro, essa classe de ativos combina duas fontes potenciais de retorno:
- Os juros do próprio título;
- A valorização cambial, caso o dólar suba frente ao real.
Na prática, ao aplicar em renda fixa em dólar, você protege patrimônio em uma moeda forte, reduz a dependência do cenário doméstico e ainda abre espaço para ganhos cambiais.
Isso o torna uma excelente escolha, principalmente em períodos de volatilidade política, fiscal ou inflacionária no Brasil.
Principais características e diferenças
A renda fixa internacional tem particularidades relevantes em relação ao mercado brasileiro. Entre as principais:
Marcação a mercado
Os títulos americanos sofrem marcação a mercado diariamente. Isso significa que seu preço varia conforme a curva de juros dos EUA.
- Quando os juros sobem, o preço dos títulos cai.
- Quando os juros caem, o preço dos títulos sobe.
Essa dinâmica afeta o retorno no curto prazo, mesmo em ativos de renda fixa.
Predominância de títulos pré-fixados
Ao contrário do Brasil, o mercado americano praticamente não oferece títulos pós-fixados equivalentes ao Tesouro Selic ou CDBs indexados à taxa básica.
Nos EUA, a regra é o título pré-fixado, geralmente pagando cupons semestrais. Isso torna a sensibilidade aos juros muito mais relevante que no Brasil.
Tipos de renda fixa em dólar
Os investimentos de renda fixa em dólar se dividem em algumas categorias principais, cada uma com riscos, prazos e formas de remuneração diferentes. Em termos gerais, é possível classificar o mercado em quatro grupos:
- Títulos do governo dos Estados Unidos (U.S. Treasuries): são os títulos da dívida americana, equivalentes ao Tesouro Direto no Brasil. Têm alta liquidez, baixo risco e grande profundidade de mercado.
- Bonds (títulos de dívida corporativa ou municipal): incluem títulos emitidos por empresas, estados ou cidades. Funcionam como as debêntures no Brasil, variando conforme risco de crédito, prazo e garantias.
- Certificates of Deposit (CDs): emitidos por instituições financeiras americanas, com vencimentos entre seis meses e seis anos. São comparáveis aos CDBs brasileiros, oferecendo taxas prefixadas e proteção do FDIC até certos limites.
- ETFs de renda fixa: uma forma passiva de acessar carteiras diversificadas de títulos, permitindo escolher prazos, tipos de emissores ou estratégias específicas.
Estrutura dos títulos do governo (U.S. Treasuries)
Dentro da categoria de Treasuries, a divisão segue os prazos e a forma de remuneração:
- T-bills: vencimento de até 1 ano; não pagam cupom (são vendidos com deságio).
- T-notes: vencimentos entre 2 e 10 anos; pagam cupom semestral.
- T-bonds: vencimentos de 10 a 30 anos; pagam cupom semestral.
- TIPS: vencimentos de 5 a 30 anos; pagam juros indexados à inflação oficial dos EUA (CPI), semelhantes ao Tesouro IPCA com cupom.
- Floating Rate Notes (FRN): vencimento de 2 anos, com taxa flutuante atrelada aos juros americanos de curto prazo.
Estrutura dos bonds corporativos e municipais
Entre os títulos privados, a classificação segue o tipo de emissor e eventuais características adicionais:
- Corporate bonds: dívidas emitidas por empresas, equivalentes às debêntures.
- Municipal bonds: emitidos por estados e municípios americanos; acesso geralmente restrito a residentes nos EUA.
- Convertible bonds: títulos que podem ser convertidos em ações, combinando renda fixa com potencial de valorização acionária.
Como investir em renda fixa americana?
A forma mais eficiente de investir em renda fixa em dólar é por meio de corretoras internacionais.
Esse caminho permite aplicar diretamente na moeda americana, acessar uma gama maior de produtos e escolher títulos com diferentes prazos, riscos e emissores.
Além disso, ao abrir conta em uma corretora estrangeira, o investidor passa a ter acesso ao mercado global de renda fixa — não apenas aos títulos dos EUA. Isso inclui:
- títulos soberanos de países desenvolvidos (Europa, Japão, Canadá, Austrália);
- dívida corporativa global;
- títulos de mercados emergentes, inclusive emissões do próprio Brasil no exterior;
- ETFs que replicam diferentes curvas, setores, regiões ou ratings.
Essa diversificação amplia o leque de estratégias possíveis e permite construir carteiras mais equilibradas entre risco, prazo e proteção cambial.
Renda fixa em dólar x renda fixa em real
A principal diferença está no tipo de risco ao qual o investidor está exposto:
Renda fixa em real
- Sensível a fatores internos: política, fiscal, inflação e decisões do Banco Central.
- Retornos normalmente elevados, mas ligados ao risco Brasil.
- Protege o poder de compra doméstico, mas não oferece defesa cambial.
Renda fixa em dólar
- Exposição ao risco global e à força do dólar, a principal moeda de reserva do mundo.
- Tende a se valorizar em momentos de aversão ao risco devido ao movimento de fly to safety.
- Pode combinar juros + ganho cambial, aumentando o potencial de retorno em crises locais.
Em períodos de instabilidade internacional, investidores costumam migrar para Treasuries, fortalecendo o dólar e valorizando a renda fixa americana. Para o investidor brasileiro, isso significa proteção adicional e descorrelação em relação aos ativos domésticos.
Conclusão
Por fim, a renda fixa em dólar é uma das formas mais eficientes de diversificar riscos e fortalecer a proteção do patrimônio.
Além de oferecer rendimentos previsíveis, ela expõe o investidor à moeda mais sólida do mundo — algo especialmente valioso para quem vive em economias voláteis, como a brasileira.
Ao incluir títulos dolarizados no portfólio, você reduz a dependência do cenário doméstico, ganha resiliência em momentos de estresse global e acessa oportunidades que simplesmente não existem no mercado local.
Construir essa parcela dolarizada de forma gradual, alinhada ao perfil de risco e ao horizonte de investimento, é uma estratégia que amplia sua segurança e melhora o potencial de retorno no longo prazo.