Em fato relevante, o Banrisul comunicou ao mercado que não possui operações de crédito com a Americanas e as ações do banco gaúcho diminuem as perdas em comparação a outras instituições financeiras listadas em bolsa.
De acordo com o banco, no dia 30 de setembro de 2022, o saldo da carteira de crédito era de R$ 47,4 bilhões e a concentração da carteira era a seguinte:
Além disso, a exposição de crédito junto ao setor varejista era de R$1,2 bilhão, contemplando, aproximadamente, 17 mil empresas, com a maior exposição representando 0,12% da carteira total e as 50 maiores exposições 0,66% da carteira total.
De acordo com a instituição gaúcha, a política de concessão de crédito do banco prima pela diversificação de risco entre os seus clientes e grupos econômicos e a sua posição junto à cadeia de sacados (operações de compror e vendor) não possui relevância na carteira de crédito, totalizando menos de R$ 10 milhões.
Nos últimos pregões, as cotações de alguns bancos, como o BTG Pactual e o Bradesco, têm sido bastante afetadas pela incerteza decorrente das fraudes contábeis ocorridas na Americanas, ao passo que as ações do Banrisul tiveram quedas bem mais brandas.
As fraudes contábeis da Americanas poderão afetar o setor bancário brasileiro?
No momento, trabalhamos com o cenário – base de que inconsistências contábeis da Americanas não deverão impactar significativamente os resultados das instituições financeiras brasileiras.
Podemos nos basear na exposição de cada banco ao setor de varejo como um todo. Santander Brasil (SANB11) e o BTG Pactual (BPAC11), por exemplo, são os bancos com maior exposição ao segmento de varejo com aproximadamente 7% do crédito total, seguidos por Bradesco (BBDC3) com cerca de 5,9%. Por sua vez, Itaú (ITUB4) e ABC Brasil (ABCB4) têm aproximadamente 3% da sua carteira exposta ao setor, ao passo que Banrisul (BRSR6) e Banco do Brasil (BBAS3) têm cerca de 2% de exposição. Naturalmente, essa exposição ao varejo é dada através de várias empresas do setor, e não apenas da Americanas.
Dessa forma, BTG, Santander e Bradesco seriam as instituições mais expostas a esse problema envolvendo a Americanas. O BTG Pactual, especificamente, já divulgou que tem créditos de R$1,9 bilhão com a varejista e se estima que o Bradesco tenha emprestado aproximadamente R$4,8 bilhões à companhia.
As operações realizadas por essas instituições financeiras referem-se à securitização de contas a pagar (crédito de fornecedores). No caso, a empresa compradora contrata uma instituição financeira que realiza um pré-pagamento aos fornecedores mediante o pagamento de juros. Porém, a Americanas estava tomando essas dívidas e as deixando de fora do balanço, o que não foi perceptível nem para os próprios credores.
Apesar das tensões judiciais envolvendo os credores e as varejistas, acreditamos que é do interesse de todos a resolução dessas inconsistências. Os bancos sinalizam ter o interesse em adiar o pagamento das dívidas, desde que os acionistas de referência façam aportes na varejista.
Atualmente, os principais sócios da empresa são os fundadores da gestora 3G, os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, os quais teriam assegurado que a Americanas fará uma nova oferta de ações para levantar recursos para cobrir o eventual rombo no balanço.
Apesar disso e da pouca visibilidade de como essas questões impactam o Balanço e Demonstrativo de Lucros e Perdas, as principais instituições financeiras têm operado em queda diante do aumento do grau de incerteza ocasionado pelas inconsistências contábeis. Apesar da gravidade que envolve essas fraudes contábeis, acreditamos que esse evento é um fenômeno isolado e não muda estruturalmente os rumos das ações das grandes instituições financeiras do país no médio e longo prazo, dada a magnitude dos balanços dessas companhias.
E você é acionista da AMER3? Posta aqui nos comentários!
Milton Rabelo
Analista CNPI 2444