“Temos de fazer um país mais humano. Se não resolvermos a situação social, não vale a pena governar o país. Vai aumentar o dólar, cair a bolsa? Paciência”, disse Lula na Conferência do Clima da ONU (COP27), no Egito.
Os discursos do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva estão causando uma grande turbulência no mercado financeiro. A ideia de ser mais humano e realizar gastos para “resolver” os problemas das classes mais baixas tem um preço bastante alto, isso porque no Brasil existe uma restrição fiscal que deveria ser respeitada. Na medida que o Lula não reconhece essa restrição, o risco país aumenta, a taxa de juros sobe e a inflação dispara, quem ganha com isso?
Se a bolsa está em queda e o dólar em alta, não é apenas a Faria Lima que está perdendo, mas principalmente os mais pobres que o presidente eleito tanto defende, uma vez que a inflação tende a impactar muito mais essa classe. A grande questão é que ignorar o quadro fiscal pode levar o país para um buraco econômico.
Com o Lula defendendo o fim do teto de gastos, o risco-país disparou 10% de ontem para hoje. Esse é o indicador responsável por medir o risco de calote nas contas públicas de um país. Algumas projeções do mercado mostram que a PEC da Transição pode elevar a dívida bruta do Brasil para algo em torno de 97% do Produto Interno Bruto (PIB). Na imagem abaixo, podemos visualizar o movimento de alta bastante expressivo do risco-país.
Todo esse cenário de aumento da percepção de risco e de incertezas, impactam diretamente as projeções para taxa de juros no Brasil. Algumas semanas atrás estávamos discutindo sobre a probabilidade do Banco Central reduzir a taxa de juros em meados de julho do próximo ano. Entretanto, com os discursos atuais do presidente eleito, o mercado já está dando adeus para possibilidade de redução na taxa de juros e estão precificando até mesmo uma alta na Selic.
Obviamente, uma discussão sobre o orçamento e gastos fora do teto iria existir em qualquer governo que fosse eleito. Não precisamos tirar nota 8 na questão do respeito ao quadro fiscal, mas algo em torno de uma nota 5 ou 6 já estaria agradando bastante o mercado. O grande problema é que não está em jogo apenas gastos extras para 2023, mas está em jogo toda trajetória fiscal do país para os próximos anos.
Para os investidores resta aguardar os próximos discursos e direcionamentos do governo eleito em relação à composição dos ministérios. As oportunidades surgem em conjunto com as incertezas, então o momento atual pode ser de grande valia para quem tiver paciência e souber aproveitar o desconto em ações de empresas de qualidade, que sempre conseguem navegar de maneira resiliente nas crises.
Por fim, acreditamos haver uma chance de que o presidente eleito Lula esteja apenas testando o mercado e sentindo um pouco das reações, até porque não faz sentido comprar essa briga e causar um caos econômico no primeiro ano de governo. Portanto, há espaço para que o Lula após conseguir inflar sua base de eleitores com discursos populistas, seja um pouco mais coerente e suave nos seus discursos. Esperamos que, na prática, seja um pouco diferente de tudo que vem sendo dito.
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Lucas Lima