O Banco Central brasileiro manteve a taxa de juros no patamar de 13,75% na reunião realizada na última quarta-feira (26). Primeiramente, vale destacar que a manutenção da Taxa Selic no patamar de 13,75% já era amplamente esperada pelo mercado, ou seja, não há tantos efeitos práticos em termos de impactos na bolsa e nas taxas de renda fixa.
A taxa de juros em 13,75% impacta diretamente o bolso do consumidor, uma vez que não há estímulo para tomar crédito, portanto, há menos dinheiro circulando para aquisição de produtos e serviços.
Esse é exatamente o objetivo do Banco Central ao elevar a taxa de juros, fazer com que o consumidor pise no freio em relação ao consumo e, com isso, pela lei da oferta e da demanda, com a menor demanda das famílias, os preços da economia comecem a cair (menor inflação).
Mas será que o patamar atual da taxa de juros já está impactando negativamente a economia ao ponto de reduzir a inflação?
Olhando para os dados de atividade econômica no Brasil, podemos notar que desde o início do ano os números ficaram acima das expectativas do mercado, levando diversos agentes financeiros a revisarem para cima as projeções de crescimento econômico para o ano de 2022.
Entretanto, os dados mais recentes do IBC-Br (Prévia do Produto Interno Bruto) referente ao mês de agosto, apontaram um tombo de 1,13%. Além disso, os últimos dados de produção industrial e vendas no varejo também apresentaram queda. Do lado positivo, o setor de serviços continua crescendo e deve ser o responsável por segurar mais o crescimento da economia. Portanto, podemos ver que sinais de desaceleração da economia brasileira começaram a aparecer, refletindo o patamar atual da taxa de juros.
A verdade é que a atividade econômica possui hoje duas forças extremas, por um lado, o estímulo fiscal (Auxílio Brasil) vem ajudando bastante a aumentar o consumo, por outro lado, a política monetária contracionista está freando a atividade. A expectativa é de uma economia mais fraca no 4ª trimestre de 2022 e de continuidade na desaceleração ao longo do 1ª trimestre de 2023, o que pode levar ao Banco Central a reduzir a taxa de juros em meados de junho.
Olhando para a confiança do consumidor, podemos visualizar que os últimos dados divulgados apontam para uma pequena queda/estabilidade. As taxas de juros elevadas e o alto endividamento das famílias são variáveis que estão freando uma recuperação mais robusta da confiança do consumidor. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) apresentou uma queda de 0,4 ponto em outubro, após quatro meses de alta.
Olhando para os últimos dados de inflação, podemos visualizar a trajetória de queda, refletindo principalmente a redução de impostos sobre combustíveis, energia e telecomunicações, mas também a elevação da taxa de juros. No acumulado em 12 meses, a inflação atingiu 6,85% (vs. 7,96% no mês anterior).
Podemos concluir que o patamar atual da taxa de juros impacta negativamente o bolso do consumidor no curto prazo, entretanto, no médio prazo, com a queda da inflação e expectativa de redução na taxa de juros, o consumidor tende a ser beneficiado com aumento da renda real e maior disponibilidade de crédito.
Uma taxa de juros elevada beneficia quais setores da economia?
Uma taxa de juros alto tende a beneficiar o setor bancário, uma vez que conseguem aumentar o spread bancário nas transações. Além disso, o setor de seguro também é bastante beneficiado na linha do resultado financeiro das empresas, uma vez que conseguem aplicar os valores pagos pelos clientes nos seguros em títulos de renda fixa que rendem o CDI. Com a taxa de juros no patamar atual, algumas seguradoras obtém um resultado financeiro maior do que o resultado operacional, por conta da alta rentabilidade das aplicações.
Qual impacto da taxa de juros nos investimentos, endividamento e na taxa de desemprego?
Em relação aos investimentos, podemos olhar por duas óticas diferentes. Primeiramente, uma taxa de juros elevada beneficiada diretamente os investimentos em renda fixa. Entretanto, quando falamos de investimentos produtivos, uma taxa de juros elevada impacta negativamente. Isso acontece pelo fato de que um empresário ao analisar um projeto e sua taxa de retorno, ele vai comparar diretamente com os investimentos em renda fixa. Nesse contexto, quando ele ver um título de renda fixa pagando cerca de 13,75% (Selic atual) praticamente sem risco algum, ele fica desestimulado a realizar o investimento no seu projeto empresarial.
Em relação ao endividamento, uma taxa de juros elevada vai impactar diretamente o custo da dívida. Olhando para o Brasil, possuímos atualmente uma relação Dívida Bruta / PIB de ~77%, um patamar que consideramos positivo e que surpreendeu positivamente vários economistas, uma vez que passamos por eventos como a pandemia. Entretanto, do lado negativo, o custo dessa dívida vem evoluindo com a taxa de juros.
Em relação à taxa de desemprego, faz sentido imaginar que uma taxa de juros elevada tende a impactar negativamente a geração de emprego. Entretanto, estamos visualizando uma queda relevante na taxa de desemprego no Brasil, que atingiu recentemente 8,9%. A explicação para esse movimento ainda não é nada tão claro, mas um estudo realizado pela FGV aponta que os setores mais intensivos em mão de obra e com menor produtividade estão apresentando bom desempenho, reforçando a melhora no emprego.
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Lucas Lima