Mesmo que suas ações estejam paradas, é possível ter ganhos significativos e consistentes com sua carteira sem precisar vendê-las. Como? Por meio da venda coberta de call, uma das estratégias mais utilizadas no mercado de opções.
Funciona assim: você vende o direito de alguém comprar suas ações por um preço pré-determinado, recebendo um “prêmio” imediato por isso.
Se o comprador exercer o direito, você vende as ações pelo preço combinado e mantém o prêmio; se não exercer, você continua com as ações e fica com o prêmio recebido.
É uma alternativa interessante para quem tem perfil moderado ou conservador, busca renda recorrente e quer reduzir o impacto de quedas no curto prazo ― mantendo o foco no longo.
Logo abaixo, você vai entender como a venda coberta de call acontece, quais são suas vantagens e riscos, e como fazer essa operação passo a passo, com exemplos práticos de ativos da bolsa de valores. Acompanhe!
O que é uma call?
Antes de entender a venda coberta, vale lembrar o que é uma call, também chamada de opção de compra.
No mercado de opções, uma call é um contrato que dá ao comprador o direito (mas não a obrigação) de adquirir uma ação por um preço previamente definido, até uma data específica.
Para ter esse direito, o investidor paga um valor chamado prêmio ao vendedor da opção.
Já quem vende a call (o lançador) assume a obrigação de vender as ações caso o comprador decida exercer o direito até o vencimento do contrato.
O que é uma venda coberta de call?
A venda coberta de call é uma estratégia em que o investidor realiza a venda de uma opção de compra de ações que já possui em sua carteira.
Ou seja, ele “cobre” o contrato com esses papéis — por isso o nome venda coberta.
Essa cobertura garante que, se o comprador exercer o direito de compra, o lançador (quem vendeu a call) já tenha as ações para entregar, evitando riscos ilimitados.
Em troca da venda da opção, o investidor recebe um prêmio, que funciona como uma renda antecipada pelo compromisso de vender suas ações caso o comprador exerça o direito.
Na venda descoberta, por outro lado, o investidor vende a call sem possuir o ativo.
Nesse caso, se o comprador decidir exercer o direito, o lançador precisa comprar as ações no mercado a qualquer preço para honrar o contrato, o que pode gerar prejuízos significativos.
Por isso, a venda coberta é considerada uma estratégia mais segura. Sendo adequada para investidores de perfil conservador ou moderado, principalmente aqueles que já mantêm ações em carteira e desejam gerar renda extra.
Como uma venda coberta de call funciona na prática?
Suponha que você possua 100 ações da Petrobras (PETR4), cotadas a R$ 30,00 cada, e decida vender uma call com strike em R$ 32,00 por um prêmio de R$ 1,00 por ação.
Assim, você embolsa R$ 100,00 (100 × R$ 1,00) logo na abertura da operação.
Agora, dois cenários podem acontecer até o vencimento:
- A ação permanece abaixo de R$ 32,00: o comprador não exercerá o direito, pois não faria sentido comprar mais caro. Assim, você mantém as ações e o prêmio recebido — lucrando com o prêmio e podendo repetir a estratégia no próximo vencimento.
- A ação ultrapassa R$ 32,00: o comprador exerce o direito de compra, e você vende suas ações por R$ 32,00, mesmo que o preço de mercado esteja acima disso. Você ainda fica com o prêmio de R$ 1,00, o que eleva seu preço de venda efetivo para R$ 33,00 (R$ 32,00 + R$ 1,00).
Em ambos os casos, o investidor sai ganhando:
- se o papel não subir acima do strike, ele mantém as ações e o prêmio recebido;
- se o papel subir além do strike, ele é obrigado a vender as ações pelo preço combinado, mas ainda fica com o prêmio, o que aumenta o lucro total obtido na operação.
Quais são as vantagens da venda coberta de call?

A venda coberta de call equilibra muito bem risco e retorno, oferecendo vantagens que tornam a estratégia atrativa:
Geração de renda recorrente
Ao vender uma call, o investidor recebe um prêmio pelo contrato, que funciona como uma renda extra antecipada.
Ainda que o comprador não exerça o direito de compra, o prêmio permanece com o lançador. Com isso, o investidor consegue repetir a operação a cada mês, sempre que um contrato de opção expirar.
Desse modo, a venda coberta de call pode gerar um fluxo de receita consistente. Ela aumenta o retorno da carteira mesmo em períodos de mercado lateralizado ou de baixa volatilidade.
Proteção parcial contra quedas
O prêmio recebido também reduz o impacto de eventuais quedas no preço das ações.
Por exemplo, se você possui ações cotadas a R$30,00 e recebe R$1,00 de prêmio ao vender a call, uma queda no mercado que reduza a ação para R$29,00 teria seu impacto parcialmente compensado pelo prêmio.
Embora não elimine totalmente o risco de perdas, essa proteção parcial funciona como um amortecedor da volatilidade da carteira, garantindo maior estabilidade para seus investimentos.
Potencial de ganho duplo
A venda coberta de call permite lucrar de duas formas: com a valorização da ação até o strike definido e com o prêmio recebido pela venda da opção.
Por exemplo, se você vende uma call com strike de R$32,00 sobre ações cotadas a R$30,00, o lucro total será a soma da valorização até R$32,00 mais o prêmio recebido. Essa combinação aumenta o retorno total da operação, ainda mais em cenários de valorização moderada do ativo.
Flexibilidade
Se a opção expirar sem ser exercida pelo titular, você mantém o prêmio recebido e continua com a posse das ações na venda coberta de call.
Além de repetir a estratégia em novos vencimentos, você pode se beneficiar de uma valorização futura do ativo, ajustando o strike e o vencimento em operações seguintes.
Assim, é possível adaptar a estratégia a diferentes cenários de mercado, aproveitando oportunidades de ganhos adicionais enquanto mantém controle sobre o risco e a alocação da carteira.
Sem chamada de margem
Como o investidor já possui os ativos que garantem a operação, não há risco de chamadas de margem ou exigências adicionais de garantia na venda de call coberta, diferente de outras operações com derivativos.
Dessa forma, mesmo investidores menos arrojados são capazes de utilizar a estratégia com tranquilidade.
Além disso, por já conhecer seus limites de ganho e perda, o investidor consegue lidar melhor com períodos de alta volatilidade, tornando a gestão de risco mais previsível e eficiente.
Riscos e limitações da estratégia
Apesar de ser uma estratégia de perfil mais conservador dentro do mercado de opções, a venda coberta de call não é isenta de riscos.
É importante conhecer suas limitações para usar a estratégia de forma consciente e evitar surpresas indesejadas.
Lucro máximo limitado
O ganho máximo da venda coberta de call é restrito ao prêmio recebido somado à valorização da ação até o strike.
Por exemplo, se você possui ações cotadas a R$30,00 e vende uma call com strike de R$32,00 recebendo R$1,00 de prêmio, seu lucro total máximo será de R$3,00 por ação.
Qualquer valorização acima de R$32,00 não aumenta seu ganho, impedindo a participação em altas expressivas do mercado.
Perda com desvalorização acentuada
Embora o prêmio recebido ofereça alguma proteção, ele tem efeito limitado em quedas significativas no preço do ativo.
Por exemplo, se a ação cair de R$30,00 para R$25,00, a perda será substancial, mesmo com o prêmio de R$1,00.
Portanto, é importante avaliar a qualidade das ações na carteira e o momento do mercado cuidadosamente antes de vender calls.
Possibilidade de exercício antecipado
Em alguns casos, o comprador da call pode exercer o direito antes do vencimento, especialmente em períodos de dividendos ou grandes eventos corporativos.
Isso significa que suas ações podem ser chamadas para venda antes do planejado, limitando ganhos futuros.
Também é preciso ficar atento ao calendário de dividendos e ao comportamento do ativo para lidar melhor com o risco.
Implicações tributárias e operacionais
A venda coberta de call gera obrigações fiscais e custos operacionais que precisam ser considerados.
O lucro obtido é tributado como ganho de capital (15% para swing trade e 20% para day trade), e o investidor precisa recolher o imposto via DARF e fazer a declaração.
Além disso, taxas de corretagem e emolumentos podem reduzir o retorno líquido da operação.
Como fazer uma venda coberta de call?

Fazer uma venda coberta de call exige planejamento e atenção a alguns passos-chave para garantir segurança e aproveitar ao máximo a estratégia. Veja o passo a passo para reduzir riscos e potencializar os ganhos:
1. Escolha das ações
Primeiramente, selecione os ativos que você já possui em carteira. O ideal é optar por ações líquidas, com bom histórico de valorização e, se possível, pagadoras de dividendos consistentes.
Essas ações oferecem maior previsibilidade, tornando a estratégia mais segura ao “cobrir” contratos de opções com ativos de qualidade.
2. Definição do strike e vencimento
Em seguida, é preciso definir o preço de exercício (strike) e a data de vencimento da opção.
O strike deve equilibrar o potencial de lucro com a segurança de não vender suas ações abaixo do valor desejado.
O vencimento deve ser escolhido considerando seus objetivos:
- Contratos curtos: permitem operar de forma rápida e frequente, repetindo a estratégia a cada vencimento.
- Contratos mais longos: tendem a oferecer prêmios maiores, mas exigem maior acompanhamento do mercado.
3. Cálculo do prêmio e potencial de ganho
Antes de executar a operação, calcule o prêmio que será recebido pela venda da call. Esse valor representa sua renda antecipada e impacta diretamente o retorno total da operação.
Considere diferentes cenários: se a ação permanecer abaixo do strike, você mantém o prêmio; se subir acima do preço de exercício, você venderá suas ações pelo strike somado ao prêmio, garantindo um ganho previsível.
4. Execução da operação
Com tudo definido, é hora de vender a call pelo Home Broker ou plataforma da corretora.
Insira a quantidade de contratos, verifique os lotes disponíveis e confirme se os valores do prêmio e das ações estão corretos.
Essa etapa exige atenção redobrada para não cometer erros de quantidade ou preço, garantindo que a operação seja realizada conforme o planejado.
5. Monitoramento e ajustes
Por fim, acompanhe o mercado, o comportamento do ativo e as opções vendidas.
Avalie se vale a pena repetir a estratégia no próximo vencimento, ajustar o strike em operações futuras ou encerrar a posição antes do prazo caso o cenário do mercado mude.
O monitoramento constante ajuda a controlar riscos e a aproveitar oportunidades de ganho de forma mais inteligente.
Qual a diferença entre venda coberta de call e venda coberta de put?
Além da venda coberta de call, outra estratégia conservadora envolvendo a venda de opções é a venda coberta de put.
Apesar dos nomes parecidos, cada uma tem objetivos e comportamentos distintos, dependendo do cenário de mercado. A seguir, veja as principais diferenças entre essas duas estratégias.
Lado da operação e objetivo principal
Na venda coberta de call, o investidor busca gerar renda com ações que já possui em carteira.
Ele vende opções de compra (calls) sobre esses ativos e, em troca, recebe um prêmio antecipado.
É uma forma de rentabilizar papéis que estão parados, desde que esteja disposto a vendê-los se o preço da ação ultrapassar o preço de exercício.
Já na venda coberta de put, o investidor parte do lado oposto: ele não tem a ação na carteira e utiliza dinheiro em caixa como garantia.
Nessa operação, você vende opções de venda (puts) e recebe um prêmio por assumir o compromisso de comprar o ativo caso o preço caia abaixo do strike.
O objetivo é esperar uma boa oportunidade de comprar uma ação desejada e, ao mesmo tempo, gerar renda extra com o prêmio recebido.
Expectativa de mercado
A venda coberta de call é mais eficiente em períodos de mercado lateral ou levemente altista.
O investidor se beneficia ao manter o prêmio recebido e, se houver uma leve alta, ainda pode lucrar com a valorização até o strike.
Já a venda coberta de put tende a funcionar melhor em mercados laterais ou levemente baixistas. Ela permite ao investidor adquirir ações de qualidade por valores mais baixos e ainda receber o prêmio enquanto espera o ponto de entrada.
Ativo utilizado como cobertura
Na venda coberta de call, a “cobertura” são as próprias ações do investidor. Elas garantem que, caso as opções sejam exercidas, ele possa entregar os papéis conforme o contrato.
Na venda coberta de put, a cobertura é o dinheiro disponível em conta, que garante a compra das ações caso o comprador da opção exerça o direito de venda.
Risco e limite de ganho
Em ambas as estratégias, o lucro máximo é limitado ao prêmio recebido (somado, no caso da call, à valorização até o strike).
Na venda coberta de call, o risco principal está em uma queda acentuada das ações, que reduz o valor da carteira.
Já na venda coberta de put, o risco está em uma forte queda do ativo, que pode obrigar o investidor a comprá-lo pelo preço de exercício, acima do valor de mercado.
Perguntas frequentes
É preciso ter todas as ações em carteira para vender calls?
Sim. Na venda coberta de call, você precisa possuir os ativos que vai “cobrir” com as opções. Isso garante que, caso o comprador exerça o direito de compra, você terá as ações para entregar, evitando prejuízos maiores. Sem essa cobertura, você torna a operação uma venda descoberta e assume um risco bem maior.
Como escolher o strike ideal para minha estratégia?
O strike deve equilibrar potencial de lucro e segurança. Preços muito próximos do valor atual da ação aumentam a probabilidade de venda, mas limitam ganhos futuros. Já strikes mais altos oferecem maior potencial de valorização, mas reduzem a chance de a opção ser exercida e de você receber o prêmio com frequência.
Posso encerrar a posição antes do vencimento?
Sim, o investidor pode recomprar a call vendida a qualquer momento. Isso pode ser vantajoso se o preço da ação se mover de forma inesperada ou se você quiser ajustar a estratégia. No entanto, o valor do prêmio pago ou recebido na recompra pode variar conforme o mercado, impactando o lucro total da operação.
Conclusão
Em resumo, venda coberta de call é uma ótima estratégia para gerar renda extra com ações que você já possui, aproveitando o prêmio da opção para aumentar a rentabilidade da sua carteira.
Além disso, ela ajuda a reduzir parte do impacto de quedas e traz previsibilidade para os seus investimentos.
Mas lembre-se: na venda coberta, você limita seu lucro e ainda fica exposto a possíveis quedas no valor dos papéis. Por isso, escolha bons ativos, defina strikes adequados e acompanhe o mercado de perto.
Para colocar essa estratégia em prática, revise sua carteira, identifique as ações que podem servir de cobertura e planeje seu primeiro lançamento de call.
Assim, a venda coberta de call pode se tornar uma ferramenta valiosa para alcançar seus objetivos financeiros.
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