Analisando a crise bancária e o resultado trimestral dos bancos americanos

Na sexta-feira, 14, foi dado início à temporada de resultados das empresas do índice S&500, sendo que tradicionalmente, o primeiro dia é marcado pela divulgação dos resultados dos principais bancos americanos. Com isso, neste dia J.P. Morgan, Citi e Wells Fargo divulgaram seus números para o primeiro trimestre de 2023.

De modo geral, os resultados foram bastante positivos, principalmente o do JP Morgan, cuja ação encerrou o dia com alta de quase 8%. Estes dados foram importantes, pois o mercado aguardava os números para avaliarmos as condições dos bancos e se novos capítulos da crise bancária seriam escritos.

O ponto de destaque dentre os bancos foram as altas no lucro líquido do JP Morgan e do Citi, que cresceram 52% e 7%, respectivamente. A principal razão para o aumento expressivo do lucro líquido do JP Morgan e do Citi foi devido ao atual nível da taxa de juros dos Estados Unidos, pois durante o primeiro trimestre de 2022 os juros ainda estavam próximos de 0%, sendo que o primeiro aumento foi realizado apenas em março de 2022. Como durante todo o primeiro trimestre de 2023 os bancos trabalharam com uma taxa de juros de pelo menos 4,25%, foi possível obter um maior spread em suas transações, que compensaram o menor volume de depósitos comparando com o primeiro trimestre do ano anterior.

O JP Morgan apresentou receita de US$38,3 bilhões, US$2,53 bilhões acima do consenso de mercado e seu lucro por ação foi de US$4,10, sendo que era esperado um lucro por ação de US$3,41. O Citi reportou uma receita de US$21,4 bilhões e lucro por ação de US$1,86, ambos acima das expectativas. Apesar do Wells Fargo também ter batido as expectativas, seus números foram mais próximos das expectativas.

Fonte: https://vocesa.abril.com.br/mercado-financeiro/balancos-de-jpmorgan-citi-e-wells-fargo-vem-bons-e-alegram-ny/

Provisões e possibilidade de crise nos Estados Unidos

A respeito das provisões que os bancos realizam é importante avaliarmos dois pontos. O primeiro é identificado no balanço dos bancos como net charge-off, que traduzindo temos “baixa líquida”, ou seja, tem como perspectiva dívidas duvidosas do passado que foram pagas. Esta métrica de fato apresentou uma queda considerável para os grandes bancos, com destaque à redução da provisão do banco Citi. Ou seja, os bancos conseguiram receber no último trimestre um volume de pagamentos maior do que era esperado, indicando que as condições da economia até o momento foram melhores do que as previstas anteriormente. Isto também indica uma boa gestão dos bancos em renegociar e receber tais valores.

Mas considero que ainda mais importante do que esta avaliação é acompanharmos a evolução das provisões para perdas de crédito para os próximos trimestres, pois neste item podemos avaliar o que os gestores esperam para a economia daqui para frente. Neste ponto a provisão dos bancos foi maior se comparada com a provisão realizada no primeiro trimestre de 2022.

O JP Morgan registrou neste trimestre o valor de US$2,275 bilhões em provisões, em linha com o divulgado no quarto trimestre de 2022, entretanto, esta provisão foi 56% maior do que a do primeiro trimestre de 2022, quando foi feita uma provisão de US$1,463 bilhões. O Citi também atuou de forma parecida, pois sua provisão para perdas neste trimestre foi de US$1,975 bilhões, enquanto para o mesmo trimestre do ano anterior a provisão foi de US$755 milhões.

Ou seja, durante o ano de 2022 as perdas foram consideravelmente menores do que as provisões, o que é positivo. Entretanto, as provisões feitas neste trimestre indicam que as condições de crédito para o ano de 2023 permanecem como grande desafio.

Neste ponto, Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, destacou que a economia norte-americana permanece forte, com um nível de consumo ainda saudável. Entretanto, “nuvens de tempestade” que são monitoradas desde o ano passado permanecem no horizonte.

Oportunidade para os grandes nomes?

A crise dos bancos, em destaque o SVB, criou um fluxo intenso de saques em bancos de menor porte para depósito nos grandes nomes, tais como o JP Morgan. Dessa forma, parte deste grande volume de depósitos foi devido a procura por nomes mais seguros do setor. Com isso, os grandes bancos dos Estados Unidos têm a possibilidade de crescer sua base de ativos e de clientes devido à incerteza do mercado.

Outro destaque do JP Morgan foi o acréscimo de US$37 bilhões em depósitos.

Mas como ficam os pequenos e médios bancos americanos? De fato, já ocorreu uma busca por nomes mais seguros, mas com o auxílio do Federal Reserve e a disponibilidade do FIDC em garantir uma parcela desses depósitos, o receio do mercado hoje é menor do que o do último mês, mas podemos considerar que o nível de desconfiança permanece acima do usual.

Caso algum banco menor apresente durante esta temporada de resultados algum problema, pode ser que o receio dos clientes retorne.

A crise bancária passou?

Por enquanto apenas os grandes bancos, que também são denominados de “grandes demais para quebrar” (too big to fail), apresentaram os resultados do primeiro trimestre. Dessa forma, ainda é cedo afirmar que a crise bancária já foi vencida. Basta avaliarmos a recente declaração de Warren Buffett, que afirmou que outros bancos provavelmente terão problemas, com possiblidade de novas declarações de falência.

O principal destaque que pode iniciar novos capítulos desta crise serão os balanços dos pequenos e médios bancos americanos. Destaco o First Republic Bank, banco que já foi resgatado pelos grandes nomes do setor, que nesta semana além de divulgar a suspensão do pagamento de dividendos de suas ações preferenciais, deveria ter divulgado seus resultados na última quarta-feira, dia 12, porém o anúncio foi postergado para o dia 24. Além disso, nomes importantes na Europa, como o Deutsche Bank, ainda permanecem no radar do mercado.

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Guilherme Morais

Analista CNPI 2682

@guilhermeammorais

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