A Curva de Juros é formada pelas taxas de juros pagas em diferentes vencimentos ao longo do tempo. Olhando para ela, podemos analisar o patamar de juros que os agentes do mercado financeiro esperam no futuro dado as condições atuais de um país. Essa taxa de juros é definida conforme a oferta e a demanda, ou seja, o Banco Central tem pouca ou quase nenhuma influência sobre ela.
Na curva de juros é importante destacar a diferença entre a taxa de juros de curto prazo e longo prazo. De forma didática, podemos resumir da seguinte maneira:
Juros de curto prazo: tende a ser mais próxima à conhecida Taxa Selic (Juros de referência do Brasil), determinada pela política monetária do Banco Central;
Juros de longo prazo: praticamente não é influenciado pelas políticas do Banco Central e, portanto, tende a ser bastante afetada pelo risco fiscal do país;
O Banco Central pode ter controle do juro atual, mas o de longo prazo termina saindo do seu alcance. O componente de incerteza faz com que as taxas mais longas tenham um comportamento ascendente. Em resumo, quanto mais anos à frente, mais incerteza, quanto mais incerteza, mais juros será exigido para compensar essa incerteza.
Construção Civil, Varejo e Tecnologia
Como os financiamentos imobiliários são de longo prazo, é extremamente importante acompanhar o desempenho da curva de juros, uma vez que ela mostra a expectativa de variação da taxa de juros nos próximos anos. Na última semana, a curva de juros aqui no Brasil se estressou bastante por conta da indefinição em relação a PEC da Transição e os nomes para compor a equipe econômica do governo eleito.
Se não houver minimamente uma responsabilidade fiscal nos próximos anos, a taxa de juros pode ficar elevada por muito mais tempo. Por conta desse contexto, a taxa do DI referente a janeiro de 2024 está atingindo 14,30%, enquanto para janeiro de 2027 está em 13,44%.
A curva de juros já está precificando uma Selic de até 15% no segundo semestre de 2023 e manutenção desse patamar até o início de 2024. Com isso, a expectativa de redução mais rápida na taxa de juros em 2023 e 2024 está sendo praticamente extinta. Na imagem abaixo, podemos visualizar a disparada recente da taxa de juros de janeiro de 2024.
![](https://blog.vgresearch.com.br/wp-content/uploads/2022/11/Captura-de-tela-2022-11-29-091228.png)
Na imagem abaixo, podemos visualizar a curva de juros antes da PEC de Transição x Curva de juros depois da PEC. A expectativa para as próximas reuniões do Copom já está sendo de alta na taxa de juros.
![](https://blog.vgresearch.com.br/wp-content/uploads/2022/11/Captura-de-tela-2022-11-29-091319.png)
Esse cenário implica em significativa revisão de lucros para as empresas versus as projeções atuais. A precificação das empresas na bolsa é dada pelo método de fluxo de caixa descontado, portanto, uma taxa de juros mais alta no futuro impacta o valor da taxa de desconto no valuation, e uma taxa de desconto maior implica em um menor valor das empresas.
O setor de tecnologia também é bastante sensível à taxa de juros de longo prazo, uma vez que é composto por empresas de crescimento que possuem fluxo de caixa “muito futuro”. Por fim, o setor varejista também tende a ser bastante sensível a uma taxa de juros elevada, uma vez que há menor circulação de dinheiro e disponibilidade de crédito.
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Lucas Lima